13 de maio

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Confesso pra vocês que sempre, desde a infância, questionei se ter nascido no dia da abolição da escravatura brasileira tinha algum significado. Para os céticos, óbvio, não tem nada a ver. Não sou cético nem um pouco. A pulga nunca saiu daqui de trás da orelha.

Eu acho que todo aniversário é uma forma de abolição. Você se desamarra do ano que passou. Você se desamarra das burrices que cometeu, das oportunidades que perdeu. Você se desamarra de quanto foi imaturo, inexperiente, inoportuno.  Você se desamarra do preconceito, da preguiça, da cobiça. Se desamarra da fraqueza, do medo.

O medo. Os negros escravos assim que deram de cara com a liberdade sofreram. O desconhecido assusta. Nós também sofremos e pensamos em voltar para o conforto da escravidão. Mas não podemos. O medo não pode nos escravizar.

A vida foi feita para ser desbravada por nós. Livres.

Hoje, 13 de maio, meu vigésimo sexto ano de vida deve ter mais algumas pequenas lições a me ensinar. Deve ter mais algumas pequenas amarras a desatar. Amém.

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil.
Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte…
É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.

(Noites do Norte. Composição: Caetano Veloso/Joaquim Nabuco)

Juliano Rigatti13 de maio

4 comments

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  • Jacqueline - 13 de maio de 2008 reply

    será que desamarra mesmo?
    escrevi um texto sobre aniversário. mas ainda não postei.

  • Elisa - 14 de maio de 2008 reply

    Gostei muito da analogia – só podia vir dessa cabecinha fértil mesmo.
    É um bom momento para desamarrar, ou melhor, quebrar paradigmas. O tempo pode fazer muito bem à cabeça!
    Parabéns Ju, muita saúde, pois é o melhor adubo para fertilizar idéias!
    Bjs!

  • Celso - 17 de maio de 2008 reply

    Juliano:

    Bela observação!

    Parabéns!

    Abraço.

    Celso.

  • simonediz - 27 de maio de 2008 reply

    Ju!
    Cá estou eu também!!! E pra dizer que adorei o blog e o post. Concordo com a parte de cada aniversário ser uma abolição… Confesso que nunca pensei exatamente desta forma, mas vc traduziu muito bem. Mas pense que cada aniversário – principalmente qdo se faz 26! – é na verdade um recomeço, como se agora sim vc fosse ser diferente (e realmente, sempre é, todos os dias). Pra mim, funciona meio como o ano-novo, mais “personalizado”. Afinal de contas, é realmente qdo começa o novo ano pra gente, né?
    Parabéns pelo texto e pelo aniversário (de novo!)
    Simone

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