Vejam que vergonha!

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Essa é daquelas de tapar os olhos com a mão, baixar a cabeça e a balançar dizendo: que vergonha, que vergonha.

A revista de jornalismo semanal de maior expressão do país começa a dar mostras de como será sua cobertura das próximas eleições. Ao que parece, muito semelhante ao péssimo conjunto de matérias sobre o governo Lula.

O que será de nós, eleitores, sedentos por informação, com um jornalismo feito desta forma?

Assim, como ter esperança em um eleitor mais consciente e, em conseqüência, em uma democracia formada por políticos corretos?

Juliano RigattiVejam que vergonha!
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Fagulhas de um velho formidável

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Faria bem lembrar Mário Quintana (1906-1994) não só no ano do seu centenário. Na verdade não faz nem muito sentido usar a contagem tão sisuda de um tal tempo com o qual nosso poeta tanto brincou. Sim, porque viver pra ele era mais do que contar o tempo passar. Era bem mais que isso. Também era bem menos que isso ao mesmo tempo. Suas poesias tornam a vida às vezes grandiosa, às vezes sutil.

É uma baita pretensão tentar dar qualquer idéia do que era Mário Quintana num texto assim, mal acabado e morrendo de sono. Mas foi por ocasião da publicação do jornal Ensaio, dos alunos de Jornalismo da Ulbra, em Canoas, que resolvi despertar para algumas pérolas deste senhor. Dois pontos.

“Quem bebe por desgosto é um tolo. Só se deve beber por gosto.”

“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.”

“Eu amo o mundo. Eu detesto o mundo. Eu creio em Deus. Deus é um absurdo. Eu vou me matar. Eu quero viver. Você é louco? Não, sou poeta.”

“Esse mundo pode ser que não preste, mas é tão bom de olhar.”

“O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores.”

“Estes, os que atravancam meu caminho… Eles passarão, eu passarinho!”

Juliano RigattiFagulhas de um velho formidável
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Mensagem no celular do Juca

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Sábado de noite. Mensagem no celular do Juca:

“Oi, estou indo pro Opinas. Bjo.”

O Juca, de cara, estranhou. Opinas é o nome íntimo do bar Opinião, em Porto Alegre. Não tinha combinado nada com a Jusci aquela noite. Nada, nada. Nem tinha tocado no assunto durante a semana. Nem sobre quem ia tocar, nem sobre desconto na consumação, sobre as amigas da Jusci, nada. Na verdade nem planejava sair aquela noite. Tinha um churrasco nos amigos, ia pra casa cedo pra dormir, só.

Terminou de se arrumar, saiu do quarto, avisou aos pais pra onde ia, pegou a carteira, as chaves e lembrou do convite da Jusci. Tinha quase certeza de que não havia combinado nada com ela durante a semana. Nem tocado no assunto. Na verdade, só tinha falado de ir no Opinas com o Gérson. Tava tudo certo até a tarde da sexta. O Juca desistiu porque fez algumas contas e viu que teria que evitar alguns excessos para o bem do bolso no final do mês. Mas o Gérson estaria lá.

É isso, pensou o Juca. Está aí a oportunidade do Gérson conhecer a Juscinéia. Dois grandes amigos do Juca, agora juntos. Seria bem legal.

O Gérson e a Jusci só tinham se visto uma vez, assim, ao vivo. Nas outras o Gérson a viu por fotos. E tinha gostado. Tinham até falado de saírem um dia todos juntos pro Juca apresentar a Jusci pro Gérson e vice-versa. Por que não naquela noite?

Do celular do Juca, mensagem para a Jusci:

“Eu não vou, mas o Gérson vai estar lá. Aproveita pra conhecê-lo guria. Juca.”

“É bem mais fácil ele me achar. Tu não disse que ele andou vendo fotos minhas? Jusci.”

Do celular do Juca, mensagem para o Gérson:

“Dica da noite: a Jusci está no Opinas. É a tua chance magrão! Juca.”

Deu tempo pro Juca sair de casa, chegar no churrasco e cumprimentar a aniversariante. Mensagem no celular:

“Meu, me descreve ela de novo. Não lembro e tô sem óculos. Gérson.”

Opa, sorriu contido o Juca, o Gérson fisgou. É hoje.

“Tu viu fotos dela esses dias, cabelos curto, loura e alta. Te vira! Juca.”

A cena se montava na cabeça do Juca. Opinião lotado, luz escassa, som lá nas alturas e o Gérson com os olhos miúdos, fazendo força para localizar uma guria loura, de cabelo curto e alta. Entre tantas, uma certamente seria a Jusci. Na real, não ia dar certo. E na real, o Juca podia fazer um pouco mais para aproximar aqueles dois.

“Jusci: onde tu vai estar até às 23:50? Juca.”

“No mesmo lugar que ficamos semana passada. No final do balcão. Bjo.”

“Cara, seguinte: ela vai estar no final do balcão de bebidas, no térreo. Traça uma linha reta com a porta que dá pros camarins, tá lembrado do Papas? Juca.”

Dez minutos e nada. Vinte e nada. Nada do retorno de ninguém.

Mensagem pro Gérson:

“E aí? Juca.”

Nada.

Meia hora depois, mensagem no celular do Juca:

“Juca? Tu tá onde? To indo embora daqui, daqui a pouco. Bjo. Jusci.”

Droga. Todo esforço em vão. Não se acharam. Também como iam se achar. Opinião lotado, luz escassa, som lá nas alturas e o Gérson com os olhos miúdos, fazendo força para localizar… nunca podia dar certo.

“Jusci, to por casa, te disse que não iria. Boa festa! Juca.”

O churrasco ainda tava rolando quando o Juca resolveu ir embora. Despediu-se de todos, chegou em casa e dormiu desiludido. Pensou que ia unir aquelas duas almas naquela noite. Sempre ouvia falar tanto do poder das novas mídias. Que a internet não sei o quê. Que os e-mails não sei o quê. Que o celular podia coisa e tal. Dessa vez não serviram pra nada. Que bosta! E o Juca dormiu.

O sol já quase se posicionava bem no meio lá em cima quando o Juca acordou e levantou. A primeira lembrança da noite passada foi do pão com alho. Do alho com pão, reclamou o Juca enquanto lavava o rosto. Essa mania de encher as coisas de tempero.

Voltou pro quarto, arrumou a cama e pegou o celular. Foi quando foi ver as horas, que percebeu que tinha recebido uma mensagem durante a noite.

“Meu amigo, tua amiga beija bem pra caramba. Gérson.”

Hehe, disseram os olhos do Juca. Piscou duas, três vezes. Sim, já estava acordado, a mensagem era real e não parecia ser uma brincadeira do Gérson.

Deu vinte minutos e a mensagem complementar:

“Amigo, eu achei o Gérson ontem. 🙂 Bjo, Jusci.”

O Juca olhou dnovo pro celular e leu a mensagem. Esticou a coberta sobre a cama e saiu balançando a cabeça.

***

Música tocando, letras e frases subindo na tela.

A Jusci e o Gérson continuaram se conhecendo nos finais de semana que se seguiram. E o Juca decidiu não interferir mais, em mais nada. Tinha feito sua parte.

Qualquer semelhança entre fatos, nomes e pessoas, é mera criação da sua fértil imaginação, amigo leitor.

Juliano RigattiMensagem no celular do Juca
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Feliz Páscoa pra ti!

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Serei, oh Pai, mais forte que o mundo,
mais forte que o ódio, nesse lugar.
Revelarei por estas chagas o meu espírito, o teu amor.
Pelas almas abandonadas, pelos pobres e sofridos,
Pelos pequenos e excluídos e por aqueles que me negam.

Para que os homens por mim amados,
Entendam todo este sofrer,
Que vem destas gotas o sangue da cruz,
Por todas almas será derramado sobre a terra,
A saciar a sede de almas,
De todas almas salvar,
E o que sinto ao me entregar…
Neste lugar…
Neste momento…
E espirar.

Não deixarei, oh Pai, a dor consumir as minhas forças, meu coração.
Tua vontade é o meu mistério, a minha paixão para amar.
As almas pecadoras, almas doces e frágeis.
Almas puras e justas e daqueles que me perseguem.

(Canto Sede de Almas, autor desconhecido pra mim)

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Uma Páscoa verdadeira para todos.
Que seja este o tempo propício para reavaliar, para reconsiderar, para reviver tanta coisa.

Shalom!

Juliano RigattiFeliz Páscoa pra ti!
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Eu já sabia!

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Resultado da enquete realizada pela Uzina representou a aposta de muitos e só confirmou a surpresa.

Quem vence o Gauchão 2006?
Internacional – 66,67%
Grêmio – 33,33%

Cor sim, cor não, a zebra virou tricolor! Pintem o Estado da cor que ele merece e comemore a vitória dos enferrujados sobre os diamantes.

Grêmio. Campeão Gaúcho 2006. Nada pode ser melhor!

Juliano RigattiEu já sabia!
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Oportunidades

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Ele estava contando um causo seu, dum dia do passado. Dançava a dois uma música gaúcha com uma amiga.

Deu mais duas sugadas na bomba do chimarrão e continuou:

– Então no meio da dança ela me olhou e disse que tinha vontade de me pedir uma coisa, mas que tinha vergonha… fiquei pensando, mas não disse nada. Logo depois, a música acabou.

Mais uma sugada. Um burburinho entre os membros da roda de chimarrão. Um certo desconforto tomou conta da galera. Todos queriam saber como a história terminava e o que o fato tinha a ver com ‘oportunidades que aparecessem na nossa vida’, assunto em pauta no momento.

O silêncio da expectativa dos ouvintes só foi interrompido pelo ronco da erva. No tiro do laço, como diria outra amiga do grupo, a cuia foi servida e passada ao próximo. E a história do amigo, pra satisfação de todos, continuou.

– Mais tarde, a menina e eu estávamos na rua e perguntei o que ela queria me dizer antes, na dança. Nada, ela respondeu. Disse que estava com vergonha e pronto. Na mesma hora que ela falou da vergonha, seus olhos olhavam os meus. Continuei olhando, olhando, e…

Foi não foi difícil de entender. O gesto de bater rapidamente as costas da mão direita na palma da mão esquerda, formando um xis, diz tudo. O beijo aconteceu.

– Viu? Isso é uma oportunidade e essas não devem ser despediçadas – orgulhou-se o amigo.

Na real, eu havia iniciado a convera, não lembro por onde. Defendi que é preciso cautela para falar em oportunidade perdida. Repeti o que ouvi de um outro amigo, dias atrás. Para ele – e agora pra mim tbm – uma oportunidade só é uma oportunidade em potencial se estamos preparados para vivê-la. Ou seja, uma oportunidade só será perdida se reconhecemos um fato como tal e optamos em não aproveitá-lo.

Explico. Muitas coisas acontecem conosco nos muitos dias de cada semana, de cada mês. Quase todas, em geral, são oportunidades para algo. O que acontece é que estamos preparados para algumas e não estamos para outras. Esta é a diferença.

Por fim, não há motivos para ressentimentos. Nem para se arrepender por aquilo que não se fez. Talvez não tenha feito pelo fato de aquilo não parecer para você uma oportunidade naquele momento. Aconteceu e passou. Só.

Não lembro bem como o assunto se esgotou. Lembro de um silêncio. Quem falava na hora fez uma pausa para sugar mais um pouco da água quente do chimarrão. E o papo sobre oportunidades parou por ali.

Ou não?

Juliano RigattiOportunidades
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A gênese das coisas

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Li a palavra gênese num texto
E gênese passou a existir a partir dali
E passei a usar gênese no que escrevo
E vejo gênese por tudo agora, por tudo.
Como se tivesse nascido – e se espalhado por aí
A gênese quando a conheci
Que outras coisas nascem pro mundo
Quando nascem pros nossos olhos?
Essa pergunta nasce aqui.

Juliano RigattiA gênese das coisas
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