Distâncias

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Não sei quem são esses da foto. Não faço a mínima idéia. A foto foi tirada com o meu celular, no aeroporto de Congonhas, dia 29 de agosto. Decerto despediam-se. Ela iniciava ou terminava um choro,  enquanto ele alisava sua mão, na tentativa de um consolo.

Ela Patrícia e ele, Cláudio, vamos supor assim. Ele dizia, Pati, prometeste não ficar assim, combinamos que isso seria bom pra mim, pro nosso futuro, Tenho medo que tu não voltas, tenho medo, tenho medo, e sumia a voz. Mas por que medo? são dois meses de trabalho e estudo e pronto, estou de volta, estarás me esperando?, Sabes que sim, sempre, não queria nem que fosses, assim não precisaria esperar, Cláudio, Me dói também, Pati, mas tenho que ir, não escolho isso e te deixo, escolho isso pensando em ti e em nosso futuro, agora deixa desse choro e sorri pra mim, vai, Lindo, tu sempre consegue me acalmar e fazer rir, é disso que sentirei mais falta, do quanto tu me completas. A mão dele parte da mão dela e pousa no rosto úmido, fitam-se por instantes. O sorriso dela se vai mais uma vez, a sombra volta ao rosto e corre uma lágrima. Apóia o rosto em uma das mãos. Breve silêncio.

Nesse momento, tiro a foto. Salvo e fico pensando no Cláudio e na Patrícia. Para onde estará indo o Cláudio? Por que ficará a Patrícia? Por que a tristeza? Não será esse sentimento nessa situação coisa retrógrada, do século passado? Temos as distâncias encurtadas, dizem os entendidos do momento. Com a Internet, o celular e demais tecnologias, temos o fim das longas distâncias. Tudo é perto, tudo está a um clique, a uma simples discagem. Dizem eles.

Faz um mês que fui ao aeroporto em Porto Alegre me despedir de um grande amigo. Estava de partida para Londres, ficar 30 dias e rever a esposa depois de 10 meses de distância. Certamente, os 10 meses mais demorados e angustiantes de sua vida. Tinham, ele e ela, orkut, msn, telefone e web cam. Nada encurtou a distância, nada aproximou os dois. Nada os aproximou um centímetro sequer. Sabia ela que ele estava bem aqui no Brasil, e sabia ele que ela estava bem em Londres. Mas tenho a impressão que o aperto no peito que sentia ele, sentia ela, era igualmente doído como o de uma amante que tinha seu amado distante nos mares, em uma caravela, há centenas de anos.

“Cara, esses 30 dias que passei com ela fez apagar todo o tempo longe, todos esses 10 meses, é como se não tivessem existido.” Dias atrás meu amigo voltou da Europa com essa frase. Tomamos um chimarrão no último sábado à tarde, enquanto ele contava os momentos vividos com ela lá. “É incrível que quando estamos com a pessoa certa na hora certa e no lugar certo, nada mais importa. A fome e o cansaço nem existem. Isso é o máximo.” Fiquei pensando de novo nas distâncias.

Se isso tudo por um instante põe em dúvida a vantagens da tecnologia advinda deste e do século passado, por outro lado deixa a impressão de que apesar de todo avanço das coisas continuamos sentindo como antes. Em pleno ano 2006, continuamos vivendo e amando como antes. A saudade não desapareceu com o advento do msn. O afeto não entrou em extinção. Nem a esperança foi arquivada. Todos existem e estão vivos por aí, no coração de cada ser humano que transita por esse mundo modernoso aí fora.

Liga quando chegar amor? e entrega a outra mão a Cláudio. Ligo, claro que ligo, quando chegar e todos os dias, mando e-mail e entro no msn de vez em quando. Não precisa ligar todos os dias, Precisa, sim, pensas que não terei saudades? Ela sorri e mais uma lágrima se vai, Sempre me fazes rir, lindo.

Juliano RigattiDistâncias
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Meu povo

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Estamos a dias de mais uma eleição no país. É vergonhoso o fato de muitas vezes termos votado por simples simpatia ou escassos conhecimentos sobre o candidato. É vergonhoso não lembrar dos políticos que ajudamos a eleger na última eleição. É vergonhoso não poder acompanhar o que o cara que ajudamos a eleger faz com o mandato que nós o confiamos. É uma vergonha. Tentar tapar os ouvidos às retóricas dos palanques e buscar informação é o melhor caminho para um voto mais honesto e mais consciente.

Primeira dica: o site Transparência Brasil é um excelente primeiro passo. Reúne informações importantes sobre a corrupção nas últimas eleições. Possui uma ferramenta por meio da qual é possível conhecer a carreira política de cada candidato a deputado federal.

Segunda dica: o site Deu no jornal. Atualizado diariamente com o noticiário sobre corrupção publicado em 63 jornais e revistas de todo o país. Imperdível.

Terceira dica: Voto nulo não anula eleição. Só piora. Extraído do site do Daniel Bittencourt, meu ex-professor de jornalismo online.

Juliano RigattiMeu povo
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Click

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ClickPensei em dar um click dias desses aí. Assim como em muitos dias desse e do ano passado. Dar um click e deixar passar uns tantos capítulos da vida. Pegar ela de novo lá na frente, daqui a dias, a anos. Fazer passar o tempo pra não passar por este ou aquele dia mais difícil. Foi sobre isso que me fez pensar o filme Click, que está em cartaz nos cinemas de Porto Alegre. Conta a história de um pai de família que, descontente com a vida que leva, aceita como presente de um anjo um controle remoto universal que tem o mágico poder de alterar o ritmo natural das coisas, inclusive do tempo. Não, não é nenhuma obra com nenhum roteiro de causar inveja. Mas é um bom provocador pra uma série de reflexões.

Penso em momentos difíceis da vida e penso em eu dando um click e zarpando dali, dando um salto pra dias depois, anos depois. E penso no que isso teria me transformado. Que impacto isso causaria no cara que sou hoje. Que lições deixaria eu de aprender, de experimentar. Isso porque cada vez mais está certo pra mim que tomo as decisões que tomo, reajo da forma como reajo porque já vivi alguma experiência que me ensinou como fazer. Pode, claro, ser algo existindo só no inconsciente, pode. Mas é decisivo a cada manhã vivida, a cada palavra trocada com alguém.

Uma amiga e eu já suspiramos juntos, cansados de tanto aprender com essa vida. Depois damos risada. Não tem jeito. O certo é que não paramos de aprender e ela não vai parar de nos ensinar enquanto andarmos por aí, tropeçando em situações novas a todo momento.

Sem muita pretensão da minha parte, a mensagem do filme serve pra todos. Tocar a vida assim mesmo, como ela se apresenta. Sem click e sem resmungar.

Juliano RigattiClick
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