O triste fim do Amarildo

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Minha família se puxou e palpitou sobre o triste fim do Amarildo, o passarinho aquele que encontramos enforcado no alto de casa.

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1. Jac – Dezembro 15, 2006
Hm, não sei pq ele se matou. Só queria saber pq ele foi batizado com esse nome…
2. Maria Paula Reinehr – Dezembro 19, 2006
Eu acho que ele se matou porque não tinha ninguém que queria brincar de “peca-peca-peca” com ele.

Beijos.

Maria Paula, 4 anos

3. Rosilei Trevisol Reinehr – Dezembro 19, 2006
Prá mim ele se matou porque tinha muita roupa prá lavar, muita casa prá limpar, muita comida prá fazer, muita calçada prá varrer, muita, muita, muita …..

Abraços

Rose,

4. Julia Cristina Reinehr – Dezembro 19, 2006
Eu acho que ele se matou porque chegou no fim do ano e pegou recuperação em Matemática, Português, História, Ciências, Geografia, Religião, Artes, Educação Física, etc, etc, etc……

Beijos e Abraços

Julia Cristina, 11 anos

5. Paulo Vicente Reinehr – Dezembro 19, 2006
Prá mim o que aconteceu foi o seguinte: ele sentiu uma pequena queda pelo colorado e antes que esse sentimento se transformasse em paixão profunda ele se matou, só isso.

Abração

6. Celso Rigatti – Janeiro 7, 2007
Com base na minha experiência profissional, acredito que o brilho da “vida amorosa” do dito Amarildo estaria sendo ofuscada pela beleza de outro de penas douradas, por isso resolveu matar-se. No entanto, espero que o procedimento legal apure as verdadeiras razões dessa morte.
7. Pietra Cassol Rigatti – Janeiro 7, 2007
Como leal seguidora da imensa arte d dedução do meu favorito detetive Sherlock Holmes, acredito q um pássaro, com uma vida tão tranqüila, como o Amarildo (q Deus o tenha) ñ teria razões para suicidar-se. O q houve foi o seguinte: um ex-amante da adorável pássara d Amarildo descobriu q ela o havia rejeitado simplesmente pq Amarildo voava para o trabalho enquanto o ex-amante ñ tinha emprego. O ex-amante, então, vingou-se do pobre Amarildo e o resto da história vcs já sabem. Se eu estiver errada, q o verdadeiro culpado apareça! Amarildo foi assassinado a sangue-frio. Ele será lembrado como um mártir! Imitando o Sadam.
Abraços
8. Marli Cassol – Janeiro 7, 2007
Deixem o Amarildo em paz! Afinal, ele não pode mais deprimir sossegado?
Juliano RigattiO triste fim do Amarildo
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“Quero que Deus me torne um verdadeiro irmão dessa gente”

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No dia em que Bush anunciou o envio de mais 20 mil soldados ao Iraque para lutar a favor de sua paz em um país destroçado pelo sofrimento e que o nosso Estado comemorou a ida de um gaúcho para o Haiti chefiar outros 1,2 mil soldados em outro fracassado plano de paz, decido também escrever sobre este tão importante estado de espírito. A história é sobre parte da vida de um soldado que, mesmo desarmado, também luta pela paz. Um jovem amigo que optou por dedicar sua vida ao silencioso trabalho em favor do outro.

Roberto Heming tem 33 anos, há quatro é sacerdote da Igreja Católica. Alguns dias atrás desembarcou em Canoas depois de uma missão de mais de 600 dias no norte do Brasil. O sol nascia todos os dias para lembrá-lo de sua missão: anunciar a boa notícia aos pobres e fazer a diferença na vida do próximo. Quase sempre nem tão próximo assim. “Viajávamos quase 80 km mato a dentro até chegar numa comunidade”, conta. Roberto passou todo ano de 2005 em uma paróquia em Uruará, cidade do oeste paraense com cerca de 60 mil habitantes, para onde partiu de Porto Alegre no dia 17 de fevereiro de 2005. Altamira, também no Pará, distante da capital Belém cerca de mil quilômetros de estrada de chão batido, foi onde o sacerdote ficou até dezembro do ano passado. Trouxe na bagagem histórias bonitas pra contar, de gente que ama a vida apesar da pobreza e do sofrimento. Nas malas da próxima missão – em Moçambique, em fevereiro deste ano –, já reservou espaço para ainda mais coragem e vontade de fazer o bem. “Levaremos para 130 comunidades nossa vivência dos valores do Evangelho e a certeza de que o povo moçambicano tem condições de conquistar uma dignidade de vida com justiça e paz”.

Uzina: A primeira idéia que se tem do lugar onde estiveste é de uma região que convive com o tráfico de madeira e de famílias com poucos recursos financeiros e precárias condições de habitação. É assim mesmo?
Pe. Roberto: As famílias do interior do Pará possuem poucos recursos, a maioria nem energia elétrica tem. Depende do que planta e colhe. As distâncias são longas e as estradas mal conservadas. Para quem não tem muitas alternativas, vender madeira acaba sendo garantia de uma vida menos sofrida. Porém, podemos dizer que mesmo com um baixo nível de escolarização, as pessoas têm uma sede de conhecimento e ao mesmo tempo possuem uma cultura rica de costumes, tradições e de solidariedade.

Uzina: O trabalho com a Pastoral Carcerária de certa forma te ajudou em situações mais extremas e para conseguir levar a tua mensagem em qualquer condição, apesar das dificuldades?
Pe. Roberto: A presença junto aos recuperandos nos presídios ajudou-me a purificar a idéia de missão que havia em minha cabeça; não tinha condições de dar o que eles mais queriam, ou seja, a liberdade. Mas poderia aprender com eles a não desanimar diante de situações desumanas.

Uzina: Como eram teus dias?
Pe. Roberto: Bem, sou um homem de fé. Rezava, tomava café e pegava o carro para viajar 20, 40 e até 80 km mato a dentro até chegar numa comunidade, cujas pessoas esperavam para serem batizadas, para casar, celebrar a Palavra e a Eucaristia. Quando chegávamos em casa, no fim do dia, banho e rede. À noite, algumas reuniões na cidade, encaminhamentos. Basicamente, era isso.

Uzina: Dos objetivos missionários que tu tinhas, que lições e que retornos tiveste?
Pe. Roberto: O outro merece respeito e admiração. A convivência com o povo do Pará deu-me a chance de ver como posso fazer a diferença quando valorizo o outro. E como posso ser idiota quando me sinto superior a ele.

Uzina: Quais as experiências negativas da missão até aqui?
Pe. Roberto: Bem, acho que deu uns prejuízos na paróquia ao estourar uns pneus novos da Toyota e ao atropelar um motociclista em pleno barro na transamazônica. Bom é que ninguém se machucou.
Mas falando sério, minha pouca experiência com movimentos sociais impediu um avanço maior na ação eclesial em busca de justiça e da paz.

Uzina: Depois disso, o que tu ainda buscas?
Pe. Roberto: Busco somente a Deus. Quero que Ele me torne um verdadeiro irmão dessa gente.

Uzina: Como se dá a influência da tua fé e da oração nas horas que encontras dificuldade?
Pe. Roberto: Sem a fé de Jesus Cristo eu teria chutado o balde todos os dias.

Uzina: Trouxeste histórias de lá?
Pe. Roberto: Algumas. Dona Jane mora a 60 km de onde estávamos, no município de Placas (que atendemos também). É uma baiana de 60 anos que já experimentou o sofrimento de ter um filho assassinado, fruto da ganância de outros. Não perdeu a força e a coragem de continuar vivendo e trabalhando na comunidade.
Outra história é de um menino que achamos na rua. Depois de três meses acompanhando-o, reuniu-se Conselho Tutelar, Paróquia e outros interessados e a pedido do menino e com a concordância de seus familiares e com o apoio do juiz, ES foi enviado a uma família no Rio Grande do Sul. Após nove meses, quis ficar num abrigo municipal. Está bem, com 13 anos e passou para 3ª série. Alguns de seus colegas no Pará já partiram mortos. Certamente, foi a melhor coisa que ajudei a realizar no primeiro ano de missão.
Mais uma: numa bela manhã de segunda-feira chegam quatro jovens negros ao local onde estávamos. Vieram pedir ajuda a mim. Moravam como posseiros numa área do governo. Ocorre que um “dono” se apresentou mandando que saíssem e com o apoio do delegado da polícia civil local ameaçou os rapazes. Eu nunca tinha falado com um delegado. Foram quatro meses de visitinhas à delegacia, fórum, juiz até botarem fogo no barraco de um dos moços. Depois de tanta luta, o Incra veio regularizar. O pretenso dono fugiu. Tinha comprado o papel da escritura no cartório, que posteriormente foi fechado pelo promotor.

Uzina: A vida aqui muitas vezes parece tão difícil, apesar de contarmos com tantos recursos materiais e afetivos…
Pe. Roberto: É, acho que a questão do apego influencia muito no empobrecimento espiritual. Mas se soubermos usar bem nossos bens e nosso saber, já evoluímos!

Uzina: Próxima missão?
Pe. Roberto: Moçambique, diocese de Nampula. Viajo dia 10 de fevereiro e fico lá três anos. Depois de dois, interrompo para umas férias. Do Brasil, a catarinense irmã Bernadete e eu nos juntaremos a outros seis missionários para atender 130 comunidades no interior do país africano. Levaremos nossa vivência dos valores do Evangelho e a certeza de que o povo moçambicano tem condições de conquistar uma dignidade de vida com justiça e paz.

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Janta de despedida, antes da viajem do Pe. Roberto

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Galera do Cenáculo de Maria na despedida

Juliano Rigatti“Quero que Deus me torne um verdadeiro irmão dessa gente”
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Bilhete apaixonado

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– Bom dia.

– Bom dia.


– Bom dia.

– Bom dia.

– Bom dia.

– Bom dia.

– Moça, não é essa passagem.

– Ai, desculpa. Ó.

– Obrigado.

– Bom dia.

– Oi, bom dia.


– Oi, bom dia.

– Bom dia. Oi.

– E esse calor?

– Insuportável.


– Bom dia.

– Bom dia.

– Tudo bom?

– Tudo, oi.


Ninguém sabe ao certo como o Lúcio e a Zu se conheceram. Ela, contadora daquela firma ali na Farrapos e ele, cobrador de ônibus. Da Vicasa. Mas a linha dele não passa na Farrapos, pelo menos hoje não passa. Estão juntos há uns três anos. Ou mais até. Se gostam que é uma beleza. Parece q se conheceram anteontem, de tanto que se gostam e ficam se olhando às vezes. Mês passado, nasceu o terceiro herdeiro da família: o Jonas. A cara do pai, admite a mãe, faceira. Tão morando em Alvorada, uma meia-hora de Porto Alegre. De aluguel, ainda não deu pra juntar pra comprar a tal moradia própria. O seu Valdemar até já ofereceu mais de uma vez a casa essa onde eles vivem pra o Lúcio comprar. Não dá, seu Valdemar, ainda não dá, segura tua onda, diz o Lúcio. O salário dos dois juntos dá pra comida, pro aluguel, roupas de vez em quando, pra poupança e pra ver corrida em Tarumã no domingo, às vezes. É o que o Lúcio mais adora. A Mariana e a Monique aprenderam a gostar também. A Zu acompanha e fica cuidando do Jonas. Não é muito de corrida, acha perigoso demais. O Lúcio não participa, só assiste. De Alvorada pro Tarumã, em Viamão, eles vão de ônibus mesmo. Parece que ano que vem o Lúcio quer comprar um carro. Fez até promessa pra Monique e pra Mariana, gêmeas idênticas. O papai-noel que vai trazer o Fiat Uno, disse pras duas. Lúcio tem 32 e a Zu, 28. Casaram na Igreja. A Lurdes, mãe da Zu, fez questão. Seu Antônio, o pai, obrigou. Nada de se enrabichar e não casar. Isso é coisa de malandro. Com a minha filha, só casando. Até parece que o Lúcio não queria. Era o sonho do cara. Pelo menos desde o dia que viu a Zu pela primeira vez.

Isso, desde aquele dia. Tá bom, vou contar como foi. Foi no ônibus. Aquela época, o Lúcio era cobrador do ônibus que fazia o trecho de Canoas pro centro de Porto e o contrário também. A Zu já trabalhava na firma onde ela tá hoje. Bom, resumindo, o Lúcio era cobrador do ônibus que a Zu pegava pra ir pra casa, em Canoas. Todo dia o Lúcio via a Zu de longe. Logo depois da curva do Xis Dogão, a calçada se formava e lá tava ela, na parada do ônibus, a Zu. Puta merda, essa guria é muito gata, ele lamentava. Lamentava, sim. Sempre brincava com a gurizada lá em Tarumã que não olhava mais mulher  bonita. Eu fico triste, nem olho mais, dizia. Bom, no início, olhar pra Zu subindo no ônibus era ficar triste também. Saber q nunca ia ficar com ela e saber q tinha algum rabudo pegando. Era um saco pro Lúcio. Ela subia e nunca lembrava de pegar a passagem antes na bolsa. Aí tinha q parar na frente do Lúcio, puxar a bolsa pra frente dos seios e procurar a fichinha da passagem. Todo dia era assim.

– Bom dia.

– Bom dia.

Isso com todos. O Lúcio gostava de cumprimentar todo mundo. Sempre tem uns q de manhã cedo já tão de cara amarrada e o Lúcio faz questão de dizer bom dia. Só pra ver a reação. Todo mundo responde. Uns olhando pra roleta, outros nem olham. Uns olham pro Lúcio e respondem, olhando no olho. Assim era com a Zu. Ela parava na roleta pra pegar a passagem e o Lúcio disparava: Bom dia. Ela parava de procurar, olhava pro Lúcio e respondia: Bom dia. Encontrava a fichinha, colocava no balcão e passava. Sentava sempre do lado esquerdo. O contrário do sol. O Lúcio ficava olhando. Escutava o bom dia até ela sentar. Todo dia era assim.

– Bom dia.

– Bom dia.

Teve um dia que o Lúcio teve q rir. Não sei por que a Zu tava com uma outra passagem na bolsa, um outro tipo, de papel. Parou na frente da roleta, como sempre, tirou a tal passagem de papel e colocou no balcão.

– Bom dia.

– Bom dia.

– Moça, não é essa passagem.

– Ai, desculpa. Ó.

– Obrigado.

O Lúcio achou engraçado. Deve estar com sono, tadinha. Também, sexta, deve estar cansada da semana. Deve ser corrido pra ela, pensou.

– Bom dia.

– Oi, bom dia.

Oi. Ela disse oi, bom dia. Ela nunca tinha dito nada diferente de bom dia pro Lúcio. Nada. E nem bem bom dia era. Era uma outra coisa que saia automático da boca dela. E da dele também. Um troço só por educação. Na real, na real, ninguém deseja mesmo que o outro tenha um bom dia. Só quando pensa no que tá dizendo. Só assim. Senão é um monte de letras que falamos por educação. Pra não ficar sem dizer nada. Mas aquele dia foi diferente. Teve o oi. Oi bom dia é mais que só bom dia. O Lúcio tinha sentido mais intimidade. Parou de ficar triste quando via a Zu. Passou a criar uma certa esperança. Uma expectativa. Não deve ser nada. Vai vê ela ficou envergonhada de ter errado a passagem outro dia e agora diz oi pra agradar. Ela acha q eu vou reparar. Na verdade, o Lúcio achou lindo ela ter se enganado. Na real, tudo na Zu o Lúcio achava lindo. Isso, o Lúcio tá caidaço pela Zu.

– Oi, bom dia.

– Bom dia. Oi.

– E esse calor?

– Insuportável.

Largou a passagem, passou a roleta e se foi. Insuportável. Tadinha. Pra que tem q trabalhar desse jeito? Tão bonita passando calor… o Lúcio tava completamente abobado. Pela Zu.

– Bom dia.

– Bom dia.

– Tudo bom?

– Tudo, oi.

Deu, tá dado o recado. Ela não é tão inacessível assim, o Lúcio achou. Tinha q arranjar um meio de ela saber do interesse dele. E logo. Mas eu nunca vou chegar nela, aqui, no ônibus. Ridículo. Ela vai dar risada. Vai me dar a passagem e dar risada. Vou escrever. Taí a solução: um bilhete. O Lúcio arquitetou o plano.

A Zu sempre passa a roleta e senta ali perto, no banco da frente. Pra onde o Lúcio fica olhando a viagem toda praticamente. No meio do caminho, o Lúcio sempre tem que sair do lugar e cobrar os passageiros que estão de pé ou sentados, antes da roleta. É pra controle e pra se livrar logo. Depois daquele ponto do caminho ninguém mais sobe. Cobrando todo mundo de uma vez o trabalho tá feito e daí é só esperar chegar a garagem. Eis o plano: o Lúcio ia descer do banco dele, ia cobrar os que estivessem de pé e, por trás da Zu, ia alcançar o tal bilhete com o recado. Simples. Sem chances de dar errado.

Chegou o dia. A Zu subiu, parou na roleta, respondeu o bom dia, sorriu pro Lúcio, o Lúcio se arrepiou e gelou a barriga, passou a roleta e foi se sentar no lugar de sempre, pertinho, pertinho. O Lúcio desceu do banco com o papel na mão. Cobrou o primeiro passageiro de pé.

– Já te entreguei.

– Já? Então tá beleza.

O Lúcio nem raciocinava mais direito. Nem lembrava mais q já tinha recebido mesmo a passagem do sujeito esse. Pediu licença pro cara, cutucou o ombro da Zu e entregou o bilhete.

“Me liga, se quiser…”

Mais eu não consegui ler. Eu era o tal passageiro que já tinha pagado o Lúcio antes de passar a roleta. Na real mesmo, nem sei se o nome do cara é Lúcio. Tão pouco se ela é a Zu. Dei uma viajada porque achei a cena no mínimo interessante. O cobrador desceu do banco e entregou um papel pra aquela moça. Na minha frente. Ela abriu leu o recado, dobrou e guardou na bolsa. Com algum apreço. Não consegui não rir na hora. Quando tempo o cara devia tá planejando fazer isso? Quando tempo o cara devia tá criando coragem? Que cena.

As pessoas em busca de seus pares. De quando vem isso? Acho que desde sempre buscamos preencher um vazio. Ou é dividir parte do que está completo? Caçar ou só cultivar o jardim, esperando que as borboletas venham. É impossível ser feliz sozinho, diz a música. É mesmo?

E os dois. Como será que vai continuar a história do romeu-cobrador e da julieta-passageira? Eita, vida curiosa.

Juliano RigattiBilhete apaixonado
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