Poente digital

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“Deus meu, neste 24 de novembro de 2008, obrigado pela saude que me permite admirar este ceu com todo o meu entendimento.”

Quando o sinal do sol jah nao alcança

a telona toda deste ceu azul

Entao os pixels coloridos se recolhem

dando lugar aos pontos de luz escura

Que preencherao a resolucao do horizonte todo

e do pouco zoom que a paisagem urbana me permite visualizar

Entre as contrucoes de tamanhos irregulares

e as antenas externas nos telhados das casas

o contraste se vai

E a cada tecla minuscula q pressiono no meu smartphone

mais um ponto luminoso da tela clara tambem se despede

Nao para dar lugar ao mesmo preto que se instalou a minha volta

mas ao negro das letras —

outra geniosidade deste Deus inventor.

Do smartphone, papel de parede do fundos de casa, sentado no degrau da porta da cozinha

Do smartphone, papel de parede dos fundos de casa, sentado no degrau da porta da cozinha

Juliano RigattiPoente digital
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Meu sobrinho é um homem!

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Bento Rigatti Scherer, anotem este nome. Com dezenove semanas de vida, este cara é o meu sobrinho. Um homem. É ainda bem pequeno – coisa de 10 centímetros e menos de 500 gramas, segundo minhas pesquisas –, formado basicamente por um cabeção em cima de ossos, cútis e membros – inclusive o tiquinho –, todos em acelerada formação. Mas embora tão pequeno, ele já é um guri, ele já é um homem. Posso garantir-vos. Querem ver porquê? Desde a décima primeira semana, já era possível observar sua massa encefálica; desde a décima quarta, o seu batimento cardíaco; e agora, seu sexo! Meu sobrinho, o Bento, já possui, portanto: dentes, unhas, um sexo, um coração e um cérebro. Todos devidamente checados. Estão mesmo ali, funcionando harmoniosamente.

De que mais um homem precisa pra viver neste mundo, senão unhas, dentes, cérebro, coração e um sexo? Teoricamente, aquele ser que tem dentes saudáveis, unhas bem cuidadas, sente e pensa com retidão tem tudo para se dar bem nesse mundo, ou não?

Todos os dias, a vida acrescenta uma razão para eu acreditar que não.

Querem ver uma delas bem atual? Digo-lhes: a sem-vergonhice e a pilantragem salvaram a economia brasileira da grande crise econômica de 2008.

Salvaram, eu disse. Do verbo livraram a barra.

Isso porque, até onde sei, o principal motivo dessa crise toda é o excesso de confiança do norte-americano em si mesmo e na sua índole. O risco de vivermos uma recessão a partir da virada do ano, as férias coletivas já concedidas aos funcionários de uma montadora de veículos aqui perto de casa e o preço das frutas cristalizadas importadas. São todos exemplos mais ou menos perto da gente de conseqüências dessa conjuntura. Uma conjuntura desencadeada pelo, repito, excesso de confiança no sistema de crédito dos Estados Unidos. Suponhamos: os caras iam até o banco abrir um financiamento para casa própria. Diferentemente daqui, o banco não tinha muitos requisitos para aprovar este crédito.(Afinal de contas, lidava com um norte-americano, um norte-americano reto). A surpresa: os cidadãos que haviam aberto financiamento garantindo que honrariam suas dívidas não conseguiram fazê-lo. Faliram. Sem receber o pagamento desses milhares de clientes, os bancos também quebraram. Primeiro um, depois o outro e mais outro.

Aqui está a nossa vantagem. Escaldados, os bancos brasileiros não emprestam um centavo sem antes ter a mais absoluta certeza de que o cliente pagará o que deve. Tim-tim por tim-tim. No prazo exato. Temos um sólido sistema de financiamento, é o que escuto por aí. E isso nos beneficiou. Por isso é que eu disse: nossa malandragem nos salvou desta vez.

Bom, voltemos ao Bento. O fato é que ele, o Bento, meu sobrinho-guri, está indo aos poucos. Nada de economia, bolsas de ações ou casa própria. Há coisas mais elementares para aprender. Tem uma que, por exemplo, ele já faz com propriedade. Querem ver? O Bento já deglute. O seu esguio corpo já sorve o líquido amniótico – o delicioso líquido amniótico, hehe – e o processa transformando-o em energia. Que espetáculo, hem?

A próxima lição, Bento, lamento informar que, apesar de menos nervosa do que um pregão da Bovespa, não lhe dará o mesmo prazer das tuas últimas refeições. Pelo contrário. Vais conhecer ninguém menos do que o soluço. E isso, cara, é um saco.

Uma pausa para pensar no milagre da vida...

Uma pausa para pensar no milagre da vida…

Juliano RigattiMeu sobrinho é um homem!
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