Ciúmes do Fernando

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O meu sobrinho Bento, que já está crescido, levou para casa, dia desses, o seu amigo Fernando. Fernando conheceu a família, jantou com o Bento e dormiu no mesmo quarto que ele. Só que Fernando não é um amiguinho da escola, Fernando é um boneco de pano. Um boneco de pano com tamanho de gente. Acompanhei flashs dessa experiência pelo Facebook da minha irmã, a mãe do Bento. Acho que não vi tudo, mas o suficiente.

Não entendo nada de pedagogia infantil, mas entendi perfeitamente a razão pela qual essa atividade foi proposta ao meu afilhado. E funcionou: eu senti ciúmes do Fernando. Ciúmes de alguém que vê o Bento na escola na hora em que ele está na escola — e não é pelas lentes de uma câmera de monitoramento ou pela foto enviada pelo Whatsapp. Ciúmes de quem enxerga as gargalhadas espontâneas do Bento e a velocidade com que o Bento corre entre as paredes e as roupas coloridas de seus coleguinhas em busca de absolutamente nada.

Senti ciúmes de quem vê o Bento lanchar, vê o Bento aprender, vê o Bento conversar, enquanto alguém tenta ensinar. Tenho ciúmes de quem convive com o Bento nessa idade em que tudo o que há de mais importante acontece sem marcar hora, sem chamar para conversar, sem pedir vem cá e me conta como foi a escolhinha hoje.

Tenho ciúmes de quem pode dar ao Bento o tempo que ele precisa, de quem chega e vai embora com ele. De quem sabe o que o Bento janta num dia qualquer, que não sejam os seus pais. Ciúmes de quem vive a rotina do meu afilhado numa época em que ele não sabe o que é a rotina e em que os dias têm tamanhos e alegrias bem diferentes dos meus dias de adulto.

Por fim, tenho só a repetir a vocês que, pelo Fernando, sinto ciúmes, e pela pedagogia infantil, passo a ter admiração. Obrigado pela lição. Genial.

Juliano RigattiCiúmes do Fernando
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