A crônica de dia nenhum

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Dois pontos. Começa aqui uma crônica sem pretensão. Alguma coisa que o próprio autor desconhece como deveria começar e como, de fato, merece acabar.

Meio como o dia. Que começa com um abafado sinal sonoro saído de algum despertador. Ou do celular. Um ruído que começa tomar forma assim que o corpo retorna do sono profundo e volta a escutar. Ou quando os dedos se agilizam pra sentir com mais intensidade cada tecla e acabam formando um monte de letras assim todas juntas uma idéia bem nova.

O que se sabe quando começa o dia e o que sei quando começo essa crônica é que o final é sabido. Isso, nos dois sentidos. Sabemos quanto tempo dura um dia e eu sei que esta crônica não vai passar desta folha. E sabido também porque sempre um final sabe das coisas. Sabe do dia vivido e sabe das linhas escritas. Cada pausa do dia para retomar o fôlego. Cada pausa do texto para retomar a inspiração. Convencionaram chamar de inspiração a vontade sempre presente de não desistir, de voltar a cada vírgula e recomeçar. Mas recomeçar com estilo. Querendo dizer algo. Com o vigor de uma frase nova.

Ou com a vitalidade de um novo parágrafo. Que começa como começa o dia depois do almoço. De barriga cheia de comida saudável ou com meia folha cheia de palavras insípidas.

Cada hora que passa ou cada tecla que afunda pra logo retomar sua forma original é preencher um branco nunca antes ocupado. O imprevisível do dia é temido para muitos dos que esperam seus doentes, é festejado por outros que esperam o apito final para comemorar ou é ignorado por outros tantos que repetem a cada inspiração a mesma coisa. O impresso na página é tão inesperado quanto o da tarde que acabou de passar na frase anterior. Esse branco ali em cima que se foi nunca antes fora substituído da forma como este autor escolheu. Uma vez ocupado na vida, esse branco não tem volta. Uma vez ocupado na folha, esse branco não te

A surpresa de cada dia. De cada crônica. O repentino quando se acha que está tudo sobre controle. Nenhum dia é igual ao que se foi. Um dia não é igual a nada. Nem é parecido com coisa alguma. Nem com uma crônica. Nem. Aqui você pode, sim, apagar e começ

Apagar e começar tudo de novo em outro lugar e terminar assim, sem dar nenhum esplicação disso que passou. Nem do erro de concordância, nem do erro de ortografia. Tão pouco da falta de rima rica ou de problema de acentuação.

Juliano RigattiA crônica de dia nenhum

2 comments

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  • Poesias e outros - 10 de outubro de 2005 reply

    Bom dia, Juliano! Acordei agora e resolvi ler teu Blog. Este texto me deu inspiração para escrever. Tu tens um grande talento.
    Beijos, Bina

  • Juliano Filipe Rigatti - 10 de outubro de 2005 reply

    Value Bina! Depois passo lá para comentar no teu. Abração e bons dias.

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