Beijo roubado

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(Artigo de Maria Valéria de Lima Shneider, Escritora e professora, publicado no jornal Zero Hora, de 12/06, Dia dos Namorados)

O que irei relatar a seguir não serão conversas enigmáticas que a mídia tem divulgado, inclusive com gravações telefônicas que alguns ministros, deputados federais e até “parentes do rei” estão tendo ultimamente, para combinarem quanto de suborno receberão para esta ou aquela transação, sabidamente ilícita.

Nem é o nome do mais recente esquema que a Polícia Federal está desbaratando.

Tampouco descreverei o último filme ficcional de Scorsese ou de Bruno Barreto.

Beijo roubado aqui será tratado na sua forma literal: alguém rouba (portanto, sem consentimento) um beijo de outro alguém.

Isso já aconteceu com você?

Se buscarmos fundo na memória, todos têm um momento assim.

Conheço pelo menos cinco histórias, umas bem singelas e outras, com  seqüelas.

Falando nisso, uma dessas histórias de beijo roubado – das quais não posso relatar – anda de boca em boca pelas ruas e rádios do nosso Rio Grande do Sul, como se fosse piada.

Mas não o é.

Engraçado, que eu mesma tenho três.

Hão de me perguntar: – Por que engraçado?

É que elas são assim: o primeiro beijo que me foi roubado, eu tinha 21 anos e o ladrão, uns 35.

Eu estava numa danceteria (para os mais novos, balada), sozinha e, certo dia, o dono do local me lascou um rápido beijo na boca. Bitoca, como se dizia.

E saiu.

Passou muito tempo sem me olhar de frente.

Aliás, antes do beijo, ele também nunca havia me olhado.

Foi uma cena bem estranha, confesso. Para ambos.

A segunda vez, eu tinha uns 25 e o gaiato era um pouquinho mais novo que eu.

Estávamos em um grupo grande de amigos, na Serra, domingo à tarde, numa festa de aniversário daquelas tipo Kerb, ou seja, de dia inteiro.

Depois de ter passado a noite dançando, eu cochilava: cabeça encostada no espaldar duma cadeira de balanço, pés em uma banqueta, braços ao longo do corpo.

Num repente, acordo-me ainda sonada. Viro-me para o lado e o segundo ladrão estava a me olhar, andando de ré.

E ficou por isso mesmo. Ele havia me dado um beijo suave na bochecha. Um beijo de amigo, pois sabia que eu estava mal da alma, por eu e meu noivo (alguém ainda lembra o que é isso?) estarmos brigados.

E, por fim, o terceiro beijo roubado foi há exatamente 15 dias.

Eu, já com 40 passados, e o roubador de beijos, cinco.

É, cinco anos.

Estava sentada nessas cadeiras baixinhas de criança de jardim de infância, quando um menininho veio por trás de mim, parou, me deu um beijinho na bochecha, e saiu correndo para pegar um bonequinho de plástico.

Perceberam onde está a parte engraçada? Não?

Então explico.

Quanto mais velha fico, mais são jovens os que se interessam em roubar-me beijos!

Lá pelos meus 65, acho que só os bebês se interessarão por mim… Talvez meus netos.

Portanto, enquanto há tempo, aproveite o seu Dia dos Namorados.

Neste dia (muito apelativo para quem está sozinho), vem o desespero de se ter ninguém.

Uma pressão no peito, de se saber, não se ser, valor de alguém…

Juliano RigattiBeijo roubado

2 comments

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  • Jac - 18 de junho de 2007 reply

    eu li esse texto na Zero.. pq o título me chamou atenção. Pensei que fosse só mais um texto melado de dia dos namorados, mas não. Ia envia-lo para meus amigos mas não o fiz… enfim… é um belo texto.
    beijo

  • Stella Rigatti - 18 de junho de 2007 reply

    Eu imaginei ser um texto interessante, do qual gostaria de enviar ao meu namorado, mas pelo contrário, textinho bobo… essa zero hora… e em pleno dia dos namorados…

    Parece-me mais uma queixa do q uma crônica… putz

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