O meu presente para o mundo

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Estávamos em quase 30 homens sentados em roda naquela tarde nublada e de temperatura amena no CRIC – Centro de Recuperação Imaculada Conceição. 

— Vocês sabem que dia comemoramos ontem, dia seis de janeiro, em todas as igrejas cristãs do mundo? — perguntei.

— Dia de Reis, um residente sentado ao meu lado logo respondeu.

— Exato, o dia em que, guiados por uma estrela, os três reis magos encontraram o menino Jesus recém-nascido, ajoelharam-se, o adoraram e entregaram de presente ouro, incenso e mirra.

E o que aquilo teria a ver com a vida e o tratamento de cada um deles, e com a vida de cada um de nós? 

Antes, li para eles o trecho do segundo capítulo do evangelho de São Mateus, que narra a bonita cena.

Os reis haviam sido atraídos e conquistados por uma grande e brilhante estrela. Como os dependentes químicos que me ouviam. Derrotados pela droga, seguiram uma estrela que havia pousado sobre o CRIC, indicando que ali seria encontrado o Salvador, junto de sua mãe, Maria. Como nós. Uma estrela nos guiou até onde estamos, no caminho da verdade e da vida.

Em seguida, falamos sobre o desfecho da passagem. Sobre o momento em que os reis entregam ao menino seus presentes, aquilo que tinham de mais valioso.

— O que vou propor a vocês nesta tarde requer tanta coragem quanto a que foi necessária para seguir a estrela até esta Comunidade Terapêutica. Quero que pensem em seus dons, em seus talentos, naquilo que vocês sabem fazer, que gostam de fazer, que faz vibrar o coração, que faz aquecer o peito. Todos nós temos algo em nós do qual as circunstâncias precisam para ficarem mais completas. O mundo precisa para ser mais humano. Os irmãos precisam para serem mais inteiros.

E prossegui.

— Quero que pensem em um objeto que representa este dom, este talento, e que está aqui na Comunidade. Algo que vocês possam ir buscar e levar até a capela onde nos reencontraremos. 

E os liberei. Fui até o carro, peguei meu objeto e fui até à bela construção reservada às celebrações e orações. 

A capela do CRIC já passou por inúmeras reformas e transformações ao longo dos anos. Está mais bonita do que nunca. 

Quando cheguei, a maioria dos residentes já estava ali, sentados nos bancos, com seus objetos em mãos, muitos com a cabeça entre os joelhos, como se buscassem no fundo do peito um local mais silencioso, um pouco de paz. Em um dos primeiros bancos, sem que eu houvesse pedido, um deles tocava violão e cantava uma bonita canção. Deixei. Aquilo já era uma resposta ao que havia pedido a eles.

Em silêncio, acompanhei um a um deixar sobre o altar o seu presente para este mundo. Do mais lúdico aos mais prático.

Mais uma vez fiquei pensando no que sempre penso quando estou com eles: o que os diferenciava de mim e daqueles que não têm esta doença crônica. 

No fim de tudo, vai valer o mesmo para todos: o valor do presente que demos ao mundo.

Juliano RigattiO meu presente para o mundo
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