Contrastes

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Contrastes. Azul escuro e verde limão. Sete e setenta. Um hipopótamo e um pernilongo. Tudo escuro e tudo aceso. Isso são contrastes. Tudo escuro e tudo aceso. Na verdade, foi com isso que essa história de contrastes começou. Eu sentia o verdadeiro valor da luz quando ela se ia. O escuro me fazia ver, me fazia descobrir o quanto aquela esquecida lâmpada era importante para minhas noites dentro de casa.

Sei que, esteticamente, o exemplo não é dos melhores, mas o que seria da lasanha se virasse um prato de todo dia, tipo o arroz? Certamente, não seria mais a tão admirada e pretendida lasanha. E o churrasco então? O ter e o não ter as coisas é uma grande lição que a vida nos ensina a cada dia. O ter e o não ter água. O ter e o não ter comida. O ter e o não ter companhia.

Da lâmpada, com o tempo, derivou para os pais. Passei a ver que muita gente só dá valor para o pai ou para a mãe quando os perde. O ter e o não ter outra vez.

Percebemos quando um texto é longo demais e está com palavras demais que não nos deixa pensar direito e nem sequer nos permite entender direito o que quer dizer quando ele é assim sem vírgula sem ponto sem nada com um ritmo frenético que parece que não vai parar nunca. Outra coisa é quando um texto, por mais longo que seja, tem suas paradas, suas pausas para reflexão, ou seja, um ritmo que permite vivê-lo com mais intensidade. Assim, passamos a entender a existência da vírgula, do ponto.

Mas parece que precisamos experimentar sempre. Experimentar. Sentir a ausência para valorizar a presença. Sentir a perda para valorizar o ganho. Sentir a dor para valorizar a saúde.

Esses dias acabou um dos finais de semana mais bacanas que já vivi. Fui com um grupo de amigos para uma praia do litoral norte aqui do Estado para dar umas risadas, tocar um violão e pegar um sol. Fizemos tudo isso e tudo foi muito intenso. A despedida deixou clara a importância da amizade que um tem pelo outro. Não vêem a hora de repetir.

De repetir. De repetir. De repetir.

Nossos dias são produzidos em série pela fábrica chamada cotidiano. Perdemos o gosto pelas coisas mais belas, não sentimos mais a essência das coisas mais naturais, o sol de rachar parece cinza, o pássaro cantando só incomoda e aquele bebê sorrindo é só mais uma peça comum no mostruário dos seres. Tudo é banalizado. De tanto repetirmos, repetirmos e repetirmos.

Tenho certeza, amigos, que aquele final de semana nunca mais voltará. Tenho certeza que nunca outro será igual. Nunca o repetiremos. Tudo o que se vê não é igual o que a gente viu há um segundo. Tudo passa. E é só deixando passar que aprendemos o real valor das pequenas coisas.

Imensos jardins floridos em todas as casas, umas ao lado das outras, faria a tal rua um saco. De um fedor insuportável. O mais legal é aquela rosa perdida no meio de tantos galhos verdes, todos iguais. Aquela rosa que se destaca, que contrasta, e que fica conhecida como aquela rosa vermelha que floriu de repente.

Falar, falar e falar cansa. Precisamos calar às vezes. Mas sempre calar só porque fez bem não resolverá. O silêncio funciona, alivia nosso cansaço e organiza nossos pensamentos quando praticado com prudência.

Acho que conseguiríamos perceber as cores do mundo se prestássemos mais a atenção nos contrastes. E nos conformássemos com a singularidade de cada coisa. E celebrássemos isso. Mas não quiséssemos que se repetisse.

Porque a repetição só estraga, tira o gosto das coisas, torna comum, torna repetitivo, comum, estraga, tira o gosto das coisas, torna comum, estraga, assim como essa frase que começa a repetir tudo o que disse até agora e até invalida toda a mensagem só pelo fato de repetir, repetir e repetir como se nada tivesse sido dito até agora e ninguém tivesse entendido o que o texto queria dizer. Branco e preto. Folha branca e espaço preenchido. Hora de parar de ler e começar a pensar. Olho aberto e olho fechado. Letra e ponto final.

Juliano RigattiContrastes

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  • Tiozão - 22 de fevereiro de 2006 reply

    Não posso deixar de concordar, os momentos quanto mais únicos e intensos mais marcantes se tornam, e intenso não quer dizer mega evento, e sim com a doação de corpo e mente dos envolvidos. Cara este texto vai para os meus documentos, junto com aqueles slides dos bons momentos vividos.

  • Juliano Filipe Rigatti - 22 de fevereiro de 2006 reply

    É intensidade acho que é isso mesmo. Tem a ver com transparência, com sinceridade.
    Vamos fazer outros momentos bacanas em breve.
    Abração Tiozão!

  • Jac - 8 de março de 2006 reply

    Desculpa mas vou ter que fazer um comentário preconceituoso (e bem espirituoso tb, vamos combinar): somente um homem poderia escrever que é preciso calar! Incrível Ju 🙂
    Fora isso, é isso tudo mesmo que tu escreveu. Ces’t la vie!

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