Dança da vida

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A músi-
ca come-
ça a tocar
devagari-
nho. Bai-
xinho. Lo-
go o ritmo
começa a ser percebido,
e logo consigo perceber
a intenção da moça do
lado. Começo pelos om-
bros a acompanhar o ritmo da dança. O ritmo dela.
Em seguida as pernas são contagiadas e tudo fica mais solto, mais natural pra mim. Não pra ela. Ela já dançava quando cheguei.Em seguida a música pára.
Predomina
o silêncio
do salão e as
pessoas todas
me observam
aguardando a
próxima can-
ção começar.
É incrível, mas na vida é exatamente assim.
Deixe a música começar a tocar pra ver co-
mo você aprende muito rápido como seguir
a sua melodia, o seu compasso. É só uma ques-
tão de tempo para você dançar muito bem, sem
nem mesmo perceber que o está fazendo. O tem-
po passa e o movimento não é mais calculado.
Temos essa incrível facilidade, nós, seres huma-
nos, de nos adaptar ao terreno. De dançar com
o ritmo, conforme a música. Passando a perce-
ber nosso espaço e nossa limitação. Esse é o pri-
meiro passo. Adaptados, passamos a querer mais espaço para poder dizer tudo, sem medir tanto as palavras, ter liberdade para ir e vir, completar a frase até a margem da folha, para argumentar, sem receio de falar alguma besteira. A liberdade que a confiança nos dá de ir e vir, sem ter que parar,
esperar o sinal
verde para avan-
çar. Porque is-
so limita nosso
espaço para vi-
ver. Daí não so-
mos mais nós
mesmos. Somos
nós, sim, mas li-
mitados a ponto
de perdermos nos-
as identidade. Aca-
bo concluindo que
a pessoa, o profis-
sional, enfim, o vi-
vente só adquire
sua verdadeira iden-
tidade quando consegue se soltar, dançar conforme a melodia tocada e não parar, mesmo que existam interrupções no caminho.
Que exijam de nós
Reconhecer o terre-
no novamente e vol-
tar a dançar, jogar o corpo para um lado e para outro, no compasso da vida, indiferente ao julgamento alheio, disposto apenas a dançar e a conquistar seu espaço
que antes era assim
reduzido e limitado,
limitando também
a personalidade que
não tem espaço para agir,
para falar, para dançar.
Como nesse texto, é também assim na vida. A começar pelo velho ditado que trata da dança adaptada à música. E, em seguida, pela conquista do próprio espaço. Ambas as fases do desenvolvimento humano são fundamentais para mostrar quem realmente somos. Bailar conforme o compasso não significa sempre repetir os passos de outros, na contramão dos nossos valores, de nossas crenças. Significa saber viver e aprender a agir conforme a vida vai se revelando. Isso afirma nossa personalidade e nos tira
daquela
vida pre-
sa a um
mundo
que nos
limita.
Adaptado e com autonomia para viver, a frase flui com naturalidade e o texto parece ter mais significado, parece chegar e dizer a que veio, convencendo o leitor e fazendo-o entrar na dança. Na dança do olhar. De um lado para o outro, os olhos vão e vem, tentando entender aonde o autor quer chegar ou como ele quer terminar, sem imaginar que ele possa, assim, do nada, acabar assim, aqui.

Juliano RigattiDança da vida

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