Especial Copa do Mundo: Boa Noite e Boa Sorte.

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Peguei pra ver o filme “Boa Noite e Boa Sorte”. Entre outras coisas, ele expõe um problema da televisão já existente no início do século XX: a despreocupação com a informação, com a cultura e o culto ao entretenimento, à bobagem.

Incluo essa crítica à cobertura que a Rede Globo faz da Copa do Mundo da qual a Seleção já não faz mais parte. Tomando um pouco de distância do momento atual da televisão, olhando de longe isso tudo, é incrível como passam os tempos e o ser humano é ludibriado da mesma forma, sem muita novidade. Em 25 de outubro de 1958, em discuro, o apresentador da CBS, Ed Murrow, diz que “se houver historiadores daqui a 50 ou 100 anos, e se houver material de uma semana das três emissoras haverá provas em preto e branco e em cores da decadência, alienação e falta de cobertura da realidade que vivemos”.

Abaixo, está um trecho do filme que fiz questão de, entre pauses e plays, copiar a legenda e transcrever pra pôr aqui na Uzina. Em outras palavras, leiam porque vale a pena.

Nós estamos ricos, gordos, seguros, complacentes
Em 1935, Ed Murrow começou sua carreira na CBS. Quando estourou a Segunda Guerra, foi sua voz que nos informou sobre a batalha da Grã-Bretanha, no programa de rádio “This is London”. Ele começou como muitos dos que estão aqui hoje, quando a televisão estava apenas começando, com seu programa de documentários “See It Now”. Ele criticou e expôs gente importante. Segregação, exploração de imigrantes, o apartheid, J. Edgar Hoover, sem esquecer sua luta histórica contra o senador McCarthy.

“O que vou dizer não deve agradar a ninguém. No fim, algumas pessoas acusem este repórter de cuspir no próprio prato e a organização talvez seja acusada de acolher idéias hereges, perigosas. Mas a complexa estrutura das redes de tevê, publicidade e patrocinadores, não será abalada ou alterada. É meu dever usar de certa franqueza pra falar com vocês, mensageiros, sobre o que está acontecendo no rádio e na televisão. Se o que eu disser for responsabilizado sou eu o único responsável pelas minhas declarações. A nossa história é o resultado do que fazemos atos. Se houver historiadores daqui a 50 ou 100 anos, e se houver material de uma semana das três emissoras haverá provas em preto e branco e em cores da decadência, alienação e falta de cobertura da realidade que vivemos. Atualmente, nós estamos ricos, gordos, seguros, complacentes. Somos inclinados a evitar informações desagradáveis e perturbadoras. A nossa mídia reflete essa atitude. Mas, exceto se esquecer os lucros e reconhecer que a televisão está sendo usada para distrair, enganar, entreter e nos isolar, então a tevê e os que a patrocinam, assistem e que nelam trabalham terão uma visão bem diferente, mas tarde demais.”

Um monte de cabos e luzes dentro de uma caixa
“A nossa história é o resultado do que fazemos. Se continuarmos como estamos, a História se vingará e nos fará pagar. Às vezes, exaltemos a importância das idéias e da informação. Vamos sonhar com a possibilidade de, num domingo à noite, no horário ocupado por Ed Sullivan, se faça estudo clínico de educação. E que, uma semana depois, o horário usado por Steve Allen sirva para uma análise da política americana no Oriente Médio. Será que a imagem dos nossos patrocinadores sairia arranhada? Será que os acionistas ficariam revoltados e reclamariam? O que aconteceria? A não ser que alguns milhões de pessoas se informassem mais sobre assuntos que determinam o futuro do país e, portanto, o futuro das nossas empresas. Àqueles que dizem que as pessoas não se interessam, que são complacentes, indiferentes e alienadas, eu apenas respondo que, na minha opinião de repórter, há provas concretas de que essa informação é incorreta. Mas, mesmo que não o seja, o que eles têm a perder? Se estiverem certos e o nosso veículo só servir para divertir e alienar, a televisão está em perigo, e logo veremos que luta foi em vão. Esse veículo pode ensinar. Pode esclarecer e até inspirar. Mas só pode fazer isso se as pessoas o usarem com esse objetivo. Senão será um monte de cabos e luzes dentro de uma caixa. Boa noite e boa sorte.”

Juliano RigattiEspecial Copa do Mundo: Boa Noite e Boa Sorte.

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  • Jac Oliveira - 2 de julho de 2006 reply

    *suspiro..

    Sabe, hoje eu me sinto colaboradora dos teus textos, hehe. Não só pelo “ludibriado” 🙂

    Mas, enfim, o jornalismo é essa coisa fascinante que nunca cessa de promover polêmica.

    E a TV.. sei lá, digam o que quiserem, ainda acho o meio mais fútil de se fazer comunicação.

    Beijos

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