Espelho meu: Nina Flores

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Essa é mais uma edição do quadro Espelho meu aqui na Uzina. Espelho meu está trazendo de tempo em tempo uma entrevista rápida com algum famoso no meu círculo social. Uma foto, uma breve explicação e a entrevista. Está sendo uma experiência interessante. Afinal, sempre é bom saber com quem a gente anda. 

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Estimo muitíssimo conhecer e ser contemporâneo de algumas pessoas deste mundo. A Srta. Nina Flores, a Aline Priscila Ebert, é uma delas. E, neste caso, posso dizer que ainda mais depois da entrevista ali de baixo.

Vou puxar pela minha magérrima memória. Acho que conheci essa moça na primeira disciplina de Jornalismo, no inverno de 2001, na Unisinos, em São Leopoldo – onde a Nina mora hoje, e um pouco mais perto de Porto Alegre do que Taquara, onde nasceu. A suposta prova disso é uma “foto na lata” que guardo até hoje como recordação de Introdução ao Jornalismo, com o professor José Carlos Hoffmeister. O problema é que o que dá valor artístico a uma “foto na lata” é a mesma falta de nitidez que hoje me impede de decifrar um por um na imagem preto e branca.

A estima pela Nina veio – e confirma-se até então – pelo seu jeito dissonante. Dissonância esta que está na expressão de suas idéias não-convencionais, nos hábitos de alimentação e no seu jeito de vestir-se. Porque é tão difícil ser diferente hoje em dia.

A vida acadêmica nos separou bastante, deu algumas boas voltas, fez reencontrarmo-nos algumas vezes para simpáticos, mas curtos, bate-papos, e jogou-nos, vejam vocês, na mesma turma de formandos em Jornalismo no dia primeiro de março do ano passado – há exato um ano desta postagem.

Bom, a Nina. Posso dizer que ela é jornalista e, diferente de muitos, sabe bem a que veio. É chique, mas não serve nem pra fútil nem para símbolo de um capitalismo artificial. E é – agora vem o que me dá mais gosto de reconhecer – alguém que pretendo que esteja por perto sempre.

Nina Flores, em foto de Cecilia Ferreira Leites

Nina Flores, em foto de Cecilia Ferreira Leites

Nome completo

Aline Priscila Ebert

Idade

25 anos

Onde nasceu

Taquara (RS)

Onde mora

São Leopoldo (RS)

Porque Flores no Nina?

Nina é um apelido que veio de casa quando pequena, algo carinhoso. Não só algo ligado à Aline, mas também pequenina, niña…

A junção com Flores foi para criar o nome do blog, em 2003. Vi um senhor vendendo flores pela janela, e virou “Nina Flores”. Hoje é nome de site, mas também codinome para alguns trabalhos.

O que é fazer jornalismo de moda?

São seis anos produzindo jornalismo de moda, mas também não deixando de fora outros tipos em meus fanzines. Muitos outros temas me interessam. No jornalismo de moda, no meu caso (existem vários tipos) é escrever para a indústria da moda, e não para quem a consome, ou seja, público final. Faço notícias, reportagens e entrevistas com temas ligados a vestuário, calçados, bolsas e acessórios, dos gêneros feminino, masculino e infantil, além de visual merchandising, negócios e comportamento ligado à moda.

O que dizer aos críticos que chamam este campo de fútil, de vazio?

Tudo depende da forma que é abordada. Todas as pessoas gostam mais de uma moda do que de outra, mesmo sem perceberem. Uma camiseta de x cor, um tênis de y estilo, uma calça com z modelagem. As marcas que criam coleções ajudam a construir/complementar o estilo de todos nós, como queremos nos mostrar para a sociedade. Moda não está só nas vitrines e na mídia, está nas pessoas e não só numa ligação monetária, mas de atitudes comportamentais mesmo.

O jornalismo de moda que faço vem contar as histórias dessas pessoas que tem o dom da criação de moda, de dirigir uma indústria têxtil, de costurar numa fábrica de calçados, de desenhar estampas que enchem os olhos… Um produto que é gerado e vai para a feira/desfile, depois para as vitrines e finalmente para as ruas. E vão ultrapassar anos, uns sendo ícones de épocas, outros sendo doados ou revendidos num brechó, reconstruídos por outras pessoas.

Jornalismo de moda em revista e na internet. Tem diferença?

No caso de onde trabalho atualmente, tem. As notícias na web, pelo contrário do que o jornalismo online indique, pode render reportagens em mais de uma parte, sem número limite de caracteres, gerar galerias com muitas imagens, fazer com que algo esteja no mundo em minutos. A revista é mais maturada, tem a diagramação a cada nova, a prova, o tempo de rodagem até chegar no leitor. Nesse, valoriza-se conteúdos menos factuais (exceto os relacionados a temporadas), abusa-se das fotografias grandes e de impacto… Porém, a mesma essência para a escrita está nos dois.

Qual foi teu primeiro passo no mundo da moda?

Comprar revistas jovens como Capricho e recortar as imagens que me interessavam, seja um look de uso nas ruas, seja de lugares, objetos. Gostar de moda é gostar de estética. Tudo pode ser inspiração para criar ou vestir algo. Daí veio a escolha pelo vestibular. O gostar de escrever e o gostar de criar. Passei em Moda e Estilo na UCS (Universidade de Caxias do Sul), mas acabei optando por Jornalismo na Unisinos. Numa oportunidade de estágio por acaso, acabei juntando jornalismo e moda. Depois também criei bolsas com minha mãe numa época e hoje tenho um brechó com peças que garimpo em muitos lugares.

Moda sustentável é só mais uma modinha?

Ainda mais modinha, espero que vá alterando. Minha família usava sacola de tecido há 20 anos, mas hoje ainda não conseguiu se  regular para lembrar de voltar a carregá-la. Vou no “super” (gíria gaúcha para supermercado) com minhas sacolas de tecidos há cerca de 2 anos, mas dificilmente encontro uma única pessoa com outras também. Esse é só um dos exemplos.

Tem que se policiar e questionar em tudo que se consome (marcas que testam em animais, líderes em transgênicos, se a pecuária é algo sustentável para o mundo, se não teria como diminuir meu consumo de energia e água. Não precisa se tornar um expert do assunto, que vira um chato, mas, sileciosamente, observar as coisas, pensar sobre o que se faz.

Tenho informações interessantes do Sindicato dos Calçadistas de Três Coroas que recicla todo o material produzido pelas fábricas; da marca Goók que cria calçados com os 2 milhões de pneus que reciclou desde 2004 quando foi criada; da Meltex que cria roupas a partir de garrafas PET e as sobras doa para confecção de edredons numa comunidade de Porto Alegre…

Mas também nem todos precisam ir no caminho do mostrar que é sustentável como marketing, mesmo que verdadeiro, mas também rever a forma de transporte dos produtos (combustível), diminuição da produção de lixo, a forma que faz uma embalagem, entre outros.

Site, fanzines e brechós. Três hobbies?

Três outras atividades como a oficial (jornalismo), tudo no mesmo patamar de interesse. Fanzines é na troca de cartas, produção de alguns e notícias sobre eles para o www.ninaflores.net/fanzine. O meu endereço pessoal www.ninaflores.net é um resumo das coisas que faço, com um blog. E o brechó é essa atividade de garimpar peças antigas para venda e locação, no www.ninaflores.net/modadebrecho.

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A palavra mais bonita da língua portuguesa: educação

A mais feia: individualismo

O pior defeito da nossa sociedade: desisteresse

Como achas que os outros te vêem? acolhedora

Qual tua idéia de domingo perfeito? com sorrisos

O que queres estar fazendo e onde queres estar vivendo com 60 anos? Onde meu coração me levar

O que é o amor? doação e reciprocidade

Qual tua memória mais antiga? Pequenina, todo final de semana do verão indo para Tramandaí de ônibus, com a mãe e uma boneca, pois o pai trabalhava nessa época num açougue lá.

Qual tua idéia de felicidade? Com paz interior, mais silêncio, menos opinião, mais ação.

Onde gostarias de viver hoje? Num lugar de ruas mais limpas e de caminhares menos apressados.

Onde gostarias de passear agora? Bolívia

O que deixarias de fazer se a Internet acabasse? jornalismo online, conversas com pessoas via e-mails, conhecer coisas que estão longe de mim.

Se pudesses eternizar alguém, quem seria? Quero deixar claro que são perguntas difíceis para mim, nunca pensei sobre escolher alguém. Oscar Niemeyer é uma pessoa maravilhosa, de princípios.

O que é a morte pra ti? Inicialmente medo, mais filosoficamente, uma das passagens. Se as pessoas pensassem sobre voltar como algo que hoje desprezam, agiriam diferente.

O que tu fazes que te dá muito prazer? Cozinhar em casa, ter boas idéias e escrevê-las no “my fake moleskini”, me sentir produtiva.

O que fazes para espantar a tristeza? Saio para andar e olho a arquitetura das casas.

Um filme: Um só é difícil. Still Crazy, Com Licença Eu Vou a Luta, Lucía Y el Sexo, Central do Brasil, Não Por Acaso, Cine Paradiso, documentários, curtas, adoro vê-los…

Um livro: Quando Nietzsche Chorou foi o mais recente e que me clareou muitas idéias. Leio mais revistas e fanzines mesmo. Tenho vários livros por ler.

Um som/música: Outro que um só é difícil. Minha casa é bastante musical. Pronto, Lacertae é algo muito lindo que entrou na minha vida. Mas curto rock, metal, rap, punk, regional, muitas ramificações de tudo isso.

Um cheiro: de terra molhada pela chuva

Um lugar: com grama

Uma coleção (que tens ou já tiveste): bolsas de tecido, carteiras, sacos, relicários, porta-jóias, tudo que seja para se guardar coisas carinhosas, relíquias.

Um doce: todos bem doces, chocolate, ambrosia, tortas…

Uma bebida: água com gás

Um prato: orientais vegetarianos e todo os outros sem carnes, tenho bom apetite.

O que já cozinhou de mais extravagante? cogumelos bêbados

O conselho que nunca esqueceu: “Dexe di sê besta”

Um pensamento: “En la tierra hace falta personas que trabajen más y critiquen menos, que construyan más, destruyan menos, que prometan menos y resuelvan más, que esperen recibir menos y dar más. Que digan mejor ahora que mañana”. Che.

Juliano RigattiEspelho meu: Nina Flores

4 comments

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  • Aline Romero - 3 de março de 2009 reply

    Muito bom!
    Boas perguntas, magníficas respostas.
    Nina tal como é. Pessoa linda que tenho o prazer
    de conhecer cada dia mais.

  • Vinícius Manfio - 9 de março de 2009 reply

    Acabei de ler seu texto sobre o CLJ, escrito em agosto do ano passado e decidi comentar neste apenas por achar ser muito mais fácil meu comentário ser lido aqui do que lá.

    Sou do CLJ também, só que não da mesma diocese, mas vejo esse mesmo problema, o de tentar formar apenas pessoas e não cristãos dentro do movimento. Por ser um movimento da Igreja, deveria-se ter uma consciência muito maior dos membros para com aquela, que, no fim, é o ponto de partida da nossa vida como membros do movimento.

    Acredito que eu não tenha sido enganado mas, tenho a certeza de que o CLJ me deu muito e eu busquei muito além do que me foi oferecido, lutei para não cair no comodismo que tanto afeta a grande maioria dos jovens, que se contentam com o que já existe e não buscam novas maneiras de ensinar, e aprender, coisas que poderiam mudar as suas vidas e as de todos os que o cercam.

    Abraço!

  • Nina Flores - 11 de março de 2009 reply

    Obrigada, amigo. Me sinto realmente feliz por suas palavras.

  • Guilherme Fernandes - 23 de março de 2009 reply

    Tive o prazer de dividir as banquetas da “academia” com os dois personagens desta entrevista. Como o Juliano descreve, também acabei jogado pela vida nesta turma de formandos do dia 1º de março de 2008. Tenho admiração por ambos e gostaria de transmitir aqui o sentimento de saudade da convivência com estes distintos e competentes jornalistas.

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