Não queira ter filhos

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Acho saudável para a nossa sociedade que continue aumentando entre nós o número de casais que não querem ter filhos. Para o bem do nosso futuro, desejo que eles se multipliquem. Mesmo você, que sempre sonhou com a prole, você me dará razão.

Para mim, o princípio disso tudo está nas razões que movem os casais que hoje estão decididos em não procriar. São inúmeros os motivos que ouço. Entre eles, a liberdade, o prolongamento de uma vida a dois, o conforto de uma renda dedicada apenas a dois adultos e até a flexibilidade para mudar-se de Estado, seja por razões pessoais ou profissionais. Mas há outros. Tem jovens que não desejam transformar-se em pais e mães porque não se sentem aptos a formar um cidadão; porque não acham que serão capazes de preparar um filho para este mundo; porque não querem assumir tal responsabilidade. Estes casais são casais de convicção. Conversam, refletem, reúnem argumentos, preparam-se para contrariar a família, o senso comum e a natureza, inclinada à procriação. Aqui está o ponto: a maioria destes casais trata com mais seriedade a possibilidade de colocar uma pessoa neste mundo do que os que a colocam de fato.

Ou você não conhece pais que terceirizam o papel de educadores para a escola? Ou que recheiam a agenda dos filhos com atividades extracurriculares para terem mais tempo? Ou que convencem gritando, que proíbem batendo? Há pais que ignoram o significado do amor, são permissivos em demasia, e esquecem-se de apresentar limites aos seus filhos. E, pior, dão de ombros para o grande mal que estão causando à sociedade. É triste, mas a julgar por muitos desses filhos que se vê por aí, dá até a impressão de que os seus pais não desejaram tê-los.

Os dinks (do inglês, double income no kids), ou casais que trabalham e não têm filhos, cresceram 70% no Brasil entre 2003 e 2009, e já representam 13% da população do Sul do país. Aplauda estes números! Quanto mais eles aumentarem, maior será a probabilidade de você conhecer um dink. E de conversar com um deles. E de ouvir seus argumentos. E de compará-los aos seus. E de repensar seus projetos de vida, recebidos prontos de sua família. Como preparar-se para ter um filho? Como educá-lo depois? Como transformá-lo em um cidadão correto e não só em mais um número que inflará ainda mais nossos índices populacionais? Um casal que não deseja ter filhos o fará pensar sobre tudo isso. E isso é salutar.

Além disso, conta pontos para o Brasil de amanhã o fato de que, dentro deste universo dos convictos em não conceber um filho, sempre haverá aqueles que mudam de ideia. Eu mesmo tenho uma amiga decidida a não ter filhos, que edita o blog Sem Filhos e já escreveu sobre a hipótese de reconsiderar sua posição. No post, escreveu “se minha vida tomar este rumo, pode apostar a sua: haverá pelo menos uma pessoa se entregando dia a dia de o e alma e, se preciso for, com sangue, suor e lágrimas, para fazer deles os indivíduos mais justos e felizes dos quais se possa ter notícia.” Bonito, hem?

O movimento dos dinks é promissor. E minha satisfação se dá por dois motivos: porque isso só aumenta as chances de que casais que querem e casais que não querem os filhos se encontrem pra bater um papo; e porque, com o aumento de pessoas com tal convicção, cresce a possibilidade de os futuros pais terem um dia desejado não ter filhos.

Juliano RigattiNão queira ter filhos

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  • Marcelo - 8 de março de 2011 reply

    Fico muito surpreso com o que leio. Não conheço o movimento – nem desejo conhecê-lo – citado no texto, mas me surpreendo com a lição que se pretende dar com a ideia de que não ter filhos possa garantir um mundo melhor. Para mim, me cheira a egoísmo. Mais fácil não ter filhos do que SE PREPARAR PARA TÊ-LOS, e para criá-los em meio ao amor e para formá-los corretor e felizes, como também citado. Como podemos esperar um mundo melhor no futuro se não quisermos lidar com gente, se não quisermos preparar nossa gente para lidar conosco? Fugindo delas? Eu discordo dessa posição e encorajo a termos, sim, filhos, com responsabilidade e amor. Também discordo com os casais de hoje – todos – discutem e conversam sobre esses desafios de forma desapegada, desprendida. A decisão, disparado, está no egoísmo de se ter de dividir o prazer, o ter e o poder individual ou conjugal com fraldas, é ter de dividir o tempo com brinquedinhos e papinhas. Isso não é difícil de captar nas conversas em qualquer lugar. Eu encorajo a termos filhos, e a formá-los cidadãos de bem e pessoas com caráter. E tudo isso, na minha opinião, se consegue regado a amor. Ou eu não entendi o texto.

    uzina - 9 de março de 2011 reply

    Só uma ressalva: eu não afirmei no texto que não ter filhos garantirá um mundo melhor. Nem de longe concordo com isso.Agora, excelente testemunho de pai, Marcelo. Te digo que aprendi mais um pouco: decidir por ter um filho é querer aprender e ensinar a lidar com gente, que é o que fazemos o tempo todo. Compartilhar. Doar. Amar. Muito bom ponto de vista. Abraço grande, Juliano.

  • Kelen - 9 de março de 2011 reply

    Eis aqui uma dessas pessoas decididas a não ter filhos. E isso não é uma fuga, como muitos podem julgar, mas sim a consequência de uma reflexão bem grande que todos deveriam fazer antes de decidir trazer alguém ao mundo e lidar com tudo que isso implica (para os pais e para a criança também). Quem se julgar apto a esse desafio e quem realmente o desejar, de coração, que o faça! Eu mantenho minha ideia, por enquanto 🙂

  • Marcelo Paes - 9 de março de 2011 reply

    Juliano, é que com um título desses e um primeiro parágrafo muito seguro em afirmar que daremos razão a essa posição anticristã, não me passa outra coisa senão que teremos um mundo melhor sem filhos. Se nos debatemos com uma sociedade de coração duro, repleta de barbáries contra a pessoa humana que nos fazem chiar, mas para as quais não conseguimos apresentar – vivenciar, na verdade – soluções concretas, precisamos renovar a vida através dos filhos. Eles são a mudança. É preciso diminuirmo-nos para que eles apareçam! Só pode afirmar se é melhor ou não depois de experimentar. Abração, MP.

  • Elisa - 9 de março de 2011 reply

    Que ponto de vista interessante. É realmente uma grande responsabilidade criar outro ser humano. Sim, tem gente que não leva jeito pra coisa, mas ter maturidade e optar em não procriar é uma decisão muito dura. Agora sinto na pele o quanto é gratificante ter um filho – no caso, uma filha. Engrandecemos enquanto pessoas. O amor que carregamos no coração é aumentado inúmeras vezes, nem dá pra acreditar quanto, e vai aumentando cada vez mais. Abrir mão desse sentimento é uma pena.

  • Priscila Hygino - 10 de março de 2011 reply

    Ju! Que legal esse blog (que não é blog)! Embora hoje vc tenha tirado um “sarrão” de RP´s (sim, eu sou!) continuo gostando do teu trabalho!!

    Olha só, justamente hoje a Rádio Eldorado falou do tema “filhos” e lançou uma polêmica:
    “Uma pesquisa do IBGE aponta que o número de casais sem filhos aumentou de 13 para 17%, no Brasil; e o número de famílias com filhos diminuiu 5%.Em sua opinião, ainda existe muita pressão social para que os casais tenham filhos? O que acha das famílias que decidem não ter filhos?

    O que acha?? dá uma olhada nos comentários:
    http://blogs.estadao.com.br/radio-blog/radioblog-1003/#comments

    Bjs

  • Jacqueline Oliveira - 11 de março de 2011 reply

    Well, eu não quero ter filhos. Faz um tempo que decidi, que aceitei a minha falta de vontade de ser mãe. Pq sim, há uma pressão horrível da sociedade e mais ainda em cima de nós mulheres. Como se tivéssemos nascido apenas para procriar. Desculpe-me quem pensa assim, mas a mim essa ideia não apetece. Sou mais do que um útero a serviço da manutenção da humanidade. Falar em religião nessa hora me soa hipócrita e não o farei. Respeito as crenças de cada um mas usar delas para argumentar me soa pouco real. E a questão é justamente o respeito… Acho que é uma questão de respeitar a opinião de cada um e mais, respeitar o que cada um faz da sua vida. Principalmente se o que eu fizer da minha vida não prejudicar os demais. O mundo está lotado de gente sem amparo, de crianças abandonadas… egoísta é a necessidade que a maioria dos seres humanos tem de gerar uma nova criança, sendo que podem ajudar e amparar outras que já estão aqui passando trabalho. Egoísmo é colocar nas costas de quem ainda nem nasceu as expectativas de uma espécie. Sejamos melhores nós primeiro, antes de pensar em ter filhos…

    Sou egoísta por não querer gerar uma vida que não me sinto apta a cuidar de verdade? definitivamente, não. Conversando contigo mesmo Ju, uma vez, eu te disse: quem pensa a fundo e a sério, não tem filhos. Não falo só por mim, falo por amigos casados tb.

    O importante é que as pessoas entendam que não é pq não desejo ser mãe, que condeno quem tem esse desejo ou não gosto de crianças. Uma coisa nada tem a ver com a outra. O mundo continuará cheio de pessoas que querem procriar… e eu respeito isso. Só acho, como tu, Ju, que isso deve ser feito com mais consciência. Saiamos de nossos mundos perfeitos e vejamos o que acontece na realidade das periferias, da classe média baixa ou nem tão baixa assim… o que vejo diariamente, até com familiares, só me faz reafirmar a minha posição. O que não me impede de um dia mudar de ideia e adotar uma criança. Serei menos mãe pq não a gerei?

    🙂

  • Dedé - 31 de março de 2011 reply

    Oi Juliano!
    Faço minhas as palavras do Marcelo.
    Saio da leitura desse texto mais triste… É uma pena, porque gosto tanto dos teus textos! Já me emocionei tanto com eles!
    Este não combina em nada com o Cristianismo (argumento bem REAL pra quem sabe amar). Uma pena…

    Abraço.

  • Mara - 27 de fevereiro de 2012 reply

    Eu concordo que se é para ter um filho e depois jogá-lo no sistema de ensino para o estado educar e alimentar precariamente ( o que eu presenciei como profissional da educação) o melhor é não fazer. Meu esposo e eu pretendemos ter um filho, educá-lo e amá-lo da melhor forma. Mas sempre que pensamos na superpopulação planetária e
    no caos social e climático, nós adiamos a concepção.

    uzina - 27 de fevereiro de 2012 reply

    Oi, Mara. Na minha humilde opinião, vocês já começam muito bem tratando com bastante critério essa importante decisão. Tenho certeza de que quando o filho vier, virá para uma família muito madura. Abraço grande, Juliano Rigatti

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