O fim do volante de contenção

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Rafael, a invenção gremista

Rafael, a invenção gremista

Mesmo que a imprensa do centro do país atribua a magnífica campanha do Grêmio no Campeonato Brasileiro a simples obra do acaso – um campeonato sem times imbatíveis fica mais fácil de ser vencido, segundo eles –, é difícil de acreditar na realidade que os olhos gremistas estão vendo. O time fez 15 gols em casa e inacreditáveis 20 fora – 11 em apenas dois jogos longe de Porto Alegre. É o melhor ataque. Mais de 70% de aproveitamento. Goleiro menos vasado. Na defesa, há três torres gêmeas – essa expressão também vem dos colegas paulistas – e um goleiro com má formação. Tem reflexo e membros superiores anormais. Mas está no meio de campo o pulo do gato do tricolor gaúcho: O clube decretou o fim do centro-médio que passava 90 minutos fungando na nuca e pisando no calcanhar do meia de armação do time adversário. Eduardo Bueno, atenção: no atual time do Grêmio não há volantes de contenção! Nosso primeiro homem de marcação do meio de campo é Rafael Carioca.

Rafael Carioca é o que há de mais moderno no raçudo futebol gaúcho.

Quase nunca escrevo sobre futebol aqui na Uzina. Sou ótimo expectador e um péssimo entendido de táticas e estratégias futebolísticas. Mas dessa vez não me agüentei. Isso porque comecei admirando o Rafael quando ele ainda jogava na meia. É o tipo de jogador que tu reconheces só pelo caminhar ou pelo toque na bola. Lembro do burguês, meu amigo burguês, que anda pelas bandas de Chapecó, quando descrevia essa última virtude. Uma vez, no primeiro grau, o burguês veio me dizer:

– Cara, o Artur (digamos que seja Artur) joga muita bola. – e eu percebia como era difícil pro burguês admitir aquilo. – Tu vi que quando ele toca na bola não dá barulho? Faz só um p. – dizia-me o burguês enquanto imitava estupefato o som de um pê mudo.

Por essas e outras, estranhei quando o Rafael Carioca sumiu dali, da armação do time, e apareceu na frente da zaga. E desfilava como se nunca tivesse saído dali.

O Grêmio marca de uma forma que chega a constranger. O Rafael Carioca é rápido suficiente para acompanhar o mais driblador do time adversário e é rude na medida para dar duro e tirar a bola sem violência. O zagueiro da sobra, fruto do esquema 3-5-2, é outro achado. Quando algum ávido atacante vence a marcação dos outros nove gremistas – porque todos marcam no time gremista – Pereira ou só acaba com a festa ou já arma mais um contra-ataque. E esse, o contra-ataque, tem em Rafael Carioca um voluntário veloz, com visão de jogo e um passe de trivela que eu muito dei nos meus tempos de pelada na pracinha da Figueira. Portanto, tenho propriedade para avaliar: é um baita toque de trivela esses do Rafael Carioca!

Li em um jornal daqui que o Grêmio teme o desgaste. São muitos jogos repetindo o time e – mentira! – não há peças de reposição. Talvez eu até concorde que o Rafael Carioca não tenha reserva hoje. Para as demais posições, porém, os banco atual não só dá conta do recado como causa grande insegurança nos titulares.

No fim desse meu primeiro ensaio boleiro, deixo a dúvida de um pessimista nato: qual será o defeito do Grêmio que ainda não foi descoberto? Qual a fraqueza ainda não revelada, capaz de arruinar uma campanha nunca antes vista em campeonatos brasileiros?

Será a inconstância do Roth? Será o grosseiro Marcel? Será uma eventual lesão do Rafael Carioca? Será uma expulsão e punição de Tcheco? Será a ruína do projeto da Arena? Será a derrota no Grenal da Sulamericana?

Deve haver algo.

Juliano RigattiO fim do volante de contenção

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  • Marla - 13 de agosto de 2008 reply

    Bah, é isso que tenho me perguntado a cada jogo: o que será que vai acontecer pra nos tirar o título?!?!
    Será que é o complexo de vira-lata de Nelson Rodrigues que domina a gauchada?! Ou é só desconfiança mesmo?!
    Sei nãi, sei não…

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