O que há de mais bonito nas mulheres

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Alguns domingos atrás, parei pra ler no jornal uma matéria de moda que falava da paixão das mulheres pelos sapatos. Parei pra ler, sim, senhores. Afinal de contas, minha namorada é uma dessas românticas. Preciso conhecer esse universo. Muita coisa bem útil já deixou de entrar no quarto dela por causa do espaço privilegiado que ocupam os seus inúmeros pares. Eu mesmo tenho receio de sobrar qualquer hora dessas, pra vocês verem.

E sabem que uma das entrevistadas da matéria sobre sapatos femininos que eu estava lendo matou a charada? Disse que as mulheres se interessam tanto por esse adorno por causa do democratismo dele. Taí! Pé não engorda, pé não sai de forma, não perde as medidas, não tem celulite. Nunca vi uma mulher em frente ao espelho, reparando no pé. Nunquinha. O pé é o que há de mais previsível, beleza garantida. Um pé bem cuidado não tem classe social, não tem pontas que ressecam, não tem raízes descoloridas, não tem gordurinha pra esconder. Por isso, porque o pé é a salvação, as mulheres buscam garantir sua beleza a partir deles. Não que as colecionadoras de sapatos não tenham o corpo bonito. Deus do céu, nada disso! Mas tenho que concordar com a entrevistada da matéria que li. Ela matou.

Agora, se eu não tivesse parado naquela noite de domingo, com a melancolia de todo domingo de noite, e lido a tal matéria, eu nunca saberia. Eu nunca saberia que as mulheres depositam nos sapatos tal parcela do seu desejo de estarem bonitas. Seu desejo de parecerem bonitas.

Porque pra mim, há uma coisa nas mulheres que é infinitas vezes mais bonita. Só uma. Vou contar qual é.

O Patrick era da turma mais velha que eu, o Dudu, o Bacon e o Marcinho. Ele andava com os guris mais crescidos, com barba na cara, pêlos nas pernas e no peito. Eram gente boa eles. Eu curtia ficar por ali, ouvindo eles falar das gurias. Eles, que eram mais rodados, entendiam desse troço de guria. Como eu jogava bola com eles, acabava ficando por ali depois do jogo, aprendendo sobre o mundo das mulheres. E foi num desses dias em que aprendi o que das mulheres eu devia amar para o resto da minha vida.

Depois do jogo daquele domingo à noite, no ginásio das freiras, fomos todos pro apartamento do Patrick. Eles falavam do jogo, dos gols perdidos e das gurias. Elegiam a mais gata das pequenas arquibancadas do ginásio. Sempre ficavam entre duas ou três. Eu concordava com todas as opções. Os guris tinham bom gosto. Quase nunca dava meu palpite. Ficava só ouvindo. E aprendendo. No que o Patrick, querendo dar credibilidade aos seu conhecimento de mulheres, abriu o maleiro do guarda-roupas e apontou lá pra dentro: a coleção de Playboy do Patrick! Eram muitas, eram diversas as Playboys do Patrick. O Patrick tinha mais Playboy do que a prateleira da biblioteca do colégio tinha livros da coleção Vagalume e mais do que hoje tem sapatos a minha namorada.

E o Patrick começou a entregar, bem generoso, pra nós, suas revistas. Cada um ficou com umas três ou quatro Playboys no colo. E riam, e apontavam e regozijavam-se. “Caaaaara, olha essa”, um dizia e eu espichava o pescoço pra conferir. “Meeeeeeu, e essa?”, dizia outro. Até que um deles sentenciou: “agora, vocês vão concordar comigo”, iniciou, em tom de discurso, depois de folhear umas três ou quatro Playboys do Patrick. Ele tinha o ar da experiência, da liderança. “É ou nao é verdade que a melhor coisa numa mulher é o cabelo?”. Nem sequer um segundo de pestanejo. A resposta foi unanime que sim. E gargalharam.

Eu fiquei sem entender.

Entre tudo aquilo que víamos dentro das brochuras daquelas revistas pecaminosas, entre tudo o que era mais belo e formoso, eles preferiam o cabelo. Eu fiquei perplexo. Mas logo o cabelo? E a fulana, eu pensava, quer dizer que tudo o que a fulana lá do grupo de jovens tem debaixo do cabelo, nada é mais belo que o seu cabelo? Mas como? O que ele tinha a ponto de fazer com que os guris preterissem todas as outras partes femininas? Eu não podia lembrar do cabelo de nenhuma das gurias do grupo. Eu havia sido enganado esse tempo todo.

Voltei pensativo pra casa aquele dia. Ainda tinha que tomar banho, jantar e preparar a mochila para uma semana de aula. Os dias se passaram e eu me peguei muitas vezes pensando em todas aquelas mulheres dentro do maleiro do guarda-roupas do Patrick. Tinha bom gosto mesmo o Patrick. Eu pensava nelas e tinha que fazer força pra lembrar só dos seus cabelos.

Considerem que eu praticamente formava naquela época minhas inclinações sexuais. E ouvir dos guris, deles que já namoravam e tal, que conheciam cada parte de uma mulher, ouvir deles que o melhor delas era o cabelo, aquilo foi chocante.

Desde aquele dia, até hoje, eu preciso que saibam de uma coisa: eu só olho para os cabelos das mulheres.

Juliano RigattiO que há de mais bonito nas mulheres

13 comments

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  • Marla - 11 de maio de 2009 reply

    Ju, amei a confissão!
    Mas, pô, cabelos?! Pelo início do texto achei que seriam os pés (ou seja, gosto também duvidoso, hahahaha).
    Bjs

  • Bacon - 11 de maio de 2009 reply

    Ah! Tá!…
    Belas desculpas para aquela tua gafe… então você quis dizer: “Isso que é CABELO!”, né?!

    Abraços.

  • Bernardo - 11 de maio de 2009 reply

    Eu, como mais experiente que todos esses juntos (pergunta pro kurt) posso afirmar que o cabelo feminino é um atrativo e a falta dele em certos lugares é melhor ainda hehehe!!

  • Simone Ribas - 11 de maio de 2009 reply

    Juliano
    Sou uma dessas mulheres que tem uma verdadeira ¨tara¨por sapatos! Amo de paixão e só as mulheres que adoooram sapatos entendem.
    Quanto a gostares de cabelos…será mesmo?

    Abraços

  • Ávaro Borges - 12 de maio de 2009 reply

    Juliano,
    Só fiquei me perguntando, se este fato ocorreu no começo dos anos 90, que penteados chamaram tanto a atenção?
    É sério, uma vez que a primeira metade dessa década não é lembrada pelo primor dos penteados e nem por deixar um legado em, digamos, “moda capilar”… hehehe
    Abraço

  • Jacqueline - 12 de maio de 2009 reply

    Me engana que eu gosto… 😀

  • Kelen - 14 de maio de 2009 reply

    Ah… os sapatos… Que coisa mais feliz é comprá-los!! E se tu só olha pros cabelos das mulheres tua namorada deve ser muito feliz. (hehe)

  • Bina - 19 de maio de 2009 reply

    Olha, pra sapatos não ligo muito. Mas meu cabelo eu adoro!!! Então cuido bem dele. Foi bom saber disso, hehe

  • Nina Flores - 14 de junho de 2009 reply

    Lembremos que cabelos não são só os da cabeça, e que não há maldade nestes “outros cabelos”, mas pureza e beleza quando houver este sentimento entre as partes, claro.

  • Barbara - 7 de agosto de 2009 reply

    Adorei!

    uzina - 9 de agosto de 2009 reply

    😀

    2009/8/7,

  • Bruna Karpinski - 25 de agosto de 2009 reply

    Hahahaha amei!!!! Realmente, sapatos e cabelos bonitos deixam qualquer mulher mais feliz. Quando percebidos pelos homens, então…
    A propósito: sendo assim, por que nunca percebem quando a gente corta o cabelo?

    uzina - 25 de agosto de 2009 reply

    Quem não nota? 😛

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