Oportunidades

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Ele estava contando um causo seu, dum dia do passado. Dançava a dois uma música gaúcha com uma amiga.

Deu mais duas sugadas na bomba do chimarrão e continuou:

– Então no meio da dança ela me olhou e disse que tinha vontade de me pedir uma coisa, mas que tinha vergonha… fiquei pensando, mas não disse nada. Logo depois, a música acabou.

Mais uma sugada. Um burburinho entre os membros da roda de chimarrão. Um certo desconforto tomou conta da galera. Todos queriam saber como a história terminava e o que o fato tinha a ver com ‘oportunidades que aparecessem na nossa vida’, assunto em pauta no momento.

O silêncio da expectativa dos ouvintes só foi interrompido pelo ronco da erva. No tiro do laço, como diria outra amiga do grupo, a cuia foi servida e passada ao próximo. E a história do amigo, pra satisfação de todos, continuou.

– Mais tarde, a menina e eu estávamos na rua e perguntei o que ela queria me dizer antes, na dança. Nada, ela respondeu. Disse que estava com vergonha e pronto. Na mesma hora que ela falou da vergonha, seus olhos olhavam os meus. Continuei olhando, olhando, e…

Foi não foi difícil de entender. O gesto de bater rapidamente as costas da mão direita na palma da mão esquerda, formando um xis, diz tudo. O beijo aconteceu.

– Viu? Isso é uma oportunidade e essas não devem ser despediçadas – orgulhou-se o amigo.

Na real, eu havia iniciado a convera, não lembro por onde. Defendi que é preciso cautela para falar em oportunidade perdida. Repeti o que ouvi de um outro amigo, dias atrás. Para ele – e agora pra mim tbm – uma oportunidade só é uma oportunidade em potencial se estamos preparados para vivê-la. Ou seja, uma oportunidade só será perdida se reconhecemos um fato como tal e optamos em não aproveitá-lo.

Explico. Muitas coisas acontecem conosco nos muitos dias de cada semana, de cada mês. Quase todas, em geral, são oportunidades para algo. O que acontece é que estamos preparados para algumas e não estamos para outras. Esta é a diferença.

Por fim, não há motivos para ressentimentos. Nem para se arrepender por aquilo que não se fez. Talvez não tenha feito pelo fato de aquilo não parecer para você uma oportunidade naquele momento. Aconteceu e passou. Só.

Não lembro bem como o assunto se esgotou. Lembro de um silêncio. Quem falava na hora fez uma pausa para sugar mais um pouco da água quente do chimarrão. E o papo sobre oportunidades parou por ali.

Ou não?

Juliano RigattiOportunidades

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  • Anonymous - 9 de abril de 2006 reply

    É amigo, o final da história nao te contei. A oportunidade muito bem aproveitada neste momento, foi desperdiçada em outro, por medo…pois noutro fandango neste mesmo lugar, com a mesma pessoa, surgiram novas oportunidades e não foram levadas adiante, e toda aquela chama que estava tão acesa, se apagou. Quem sabe para abrir novos caminhos…

  • Jacqueline Oliveira - 11 de abril de 2006 reply

    Oportunidades. Sei lá. Talvez eu já nem saiba mais reconhecer quando elas realmente aparecem!

    Às vezes acho que ao invés de oportunidade, uma situação pode ser um terrível erro…

    beijo!

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