Pela nossa esperança

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Quando um novo ano começa o que se vê sempre são as pessoas e as empresas olhando pra trás e quantificando capital acumulado e feitos realizados. São os famosos balanços que ajudam pessoas e empresas a conhecer a fase que a troca de ano deixou pra trás.Chega então o instante de olhar pra frente. Pro novo. Com esperança. Será que este é o ano do fim da ocupação do Iraque? Será que aquele foi o último escândalo de corrupção na política brasileira? Serão as curas todas descobertas em 2008? O Ronaldinho Gaúcho vai voltar a jogar bola de verdade? A paz, enfim, reinará?

Na estrada, de férias, do nada, comecei a cantarolar uma musiquinha que as freiras nos ensinavam no colégio Espírito Santo, lá no primeiro grau. Chama-se Utopia. Estava impressa, em letras garrafais, numa das últimas páginas da agenda estudantil.

“Quando o dia da paz renascer
Quando o sol da esperança brilhar
Eu vou cantar
Quando os muros que cercam os jardins
Destruídos então os jasmins
Vão perfumar”

E seguia. Versos e mais versos falando de esperança. Nós gozávamos. Achávamos um saco aquela cantoria toda. À capela. Nem um violãozinho, nada. Só a voz esforçada da irmã. Por sorte, não tínhamos que decorar a tal letra. No fundo no fundo, a gente tirava sarro daquela música porque ela própria já fazia isso. O mesmo texto que se propunha a nos motivar, a ser um alento, era melancólico. Parecia que debochava da esperança do homem no mundo. Trazia um tom de desilusão, de desânimo na letra. Como se este dia, o dia da paz, de fato, nunca fosse chegar.

Acreditando nisso ou não, no dia da paz, temos que admitir que um dos milagres mais belos da existência humana é essa tal esperança. Acordamos de manhã, pra um dia que tem tudo pra ser igual a tantos outros, com problemas repetidos, com injustiça, com egoísmo. Mas, incrivelmente, estamos dispostos a viver. Um desafio no trabalho, um sorvete no fim dia, o sorriso dela, o chimarrão com o mesmo amargor de sempre. Tudo ganha nova cor. Somos seres movidos pela esperança. Tudo que queremos é uma nova peleia. E, cá entre nós, não temos outra escolha senão acreditar e pelear.

E o mais belo, o mais extraordinário, é que a esperança não é só uma escolha. Ela vem do nada, junto do sol. O sol que nasce e que morre, igual todos os dias. E que, ao se entregar pra noite, se vai com a certeza de que brilhará imponente, de novo, no dia seguinte. Sem importar-se com a utopia.

Juliano RigattiPela nossa esperança

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  • Celso - 5 de fevereiro de 2008 reply

    Juliano:

    Embora não tenha identificação, acredito que de seja tua lavra.
    Lembro-me de semelhantes situações, as quais eram sempre energizadas pela empolgação dos ambientes escolares religiosos: isto nos deu (e continua nos dando) força!
    Abraços.
    Celso.

  • Nina Flores - 9 de fevereiro de 2008 reply

    Desde que não viremos come e dorme, tá valendo. Acredito que a comida deve nos fortalecer, mas sem ser o principal cardápio da vida. Me fiz entender? Importantes suas reflexões.

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