Pipas

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Agora sao vinte pras duas da madrugada de um domingo qualquer. Ha poucos minutos, um “plin-plin” no meu celular avisava que a mensagem que eu tinha enviado havia sido entregue nos celulares do Bacon e da Sheila.

Fiz questao de agradecer por terem me presenteado com O Cacador de Pipas, de Khaled Hosseini, do qual acabava de virar a ultima pagina. Depois de muitos suspiros e sensacoes de pavor, indignacao, profunda tristeza e uma alegria que, mesmo pouco familiarizada com lugares e personagens, vinha, assim, gostosa. Eh que ser humano, seja ele qual for, sente e vive o mesmo que a gente. E a empatia acontece. Senti alegria a ponto de molhar os olhos umas tantas vezes.

Pipas nunca tinham formado na minha cabeca imagens muito significativas. Lembro de ter ido comprar papel de seda e ter procurado gravetos nem muito pesados, nem muito frageis. Isso ha uns quinze anos ou mais. Elas nunca sairam do chao. Os fios dos postes de luz sempre as impediram.

Mas hoje — ou a partir de hoje — pipas me dao — ou me darao — medo.

Medo do que essa vida e esse mundo me reservam. Medo de chegar em um tempo em que sentirei saudade. Medo de virar so mais uma vitima dessa vida que nao eh um filme indiano, que nao tem sempre um final feliz e que nao se importa nem um pouco com isso. Essa vida que apenas segue “em frente, como uma caravana de kochis, lerda e empoeirada”.

Bom se a vida fosse como esse livro aqui no meu colo. Se pudessemos pega-la a hora que quisessemos e folhea-la, bem la atras, nos primeiros capitulos. Ver as pessoas de novo, ouvir as vozes, sentir o cheiro, ve-las partir e, em seguida, retornar.

Hoje tenho comigo todos os que amo de verdade. Tenho medo do dia em que nao os terei mais. E vou sentir vontade de folhear as paginas pra tras. Mas nao dara. Nao poderei.

O Bacon e a Sheila responderam minha mensagem. Disseram coisas bonitas. Que bom que eu gostei do presente. Que por mim fariam isso mil vezes. Como Hassan disse. Como Amir disse.

Esses amigos meus casaram-se ha pouco. Coisa de um mes.

Que Deus os conceda uma vida de felicidade. E que esta vida seja boa e justa com eles. E que lhes traga, no fim da vida, o que queremos para todos nos. A saudade de uma vida bem vivida. So pipas de saudades boas de sentir.

Juliano RigattiPipas

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  • Jac Oliveira - 13 de abril de 2008 reply

    Pois é. Não dá pra folhear as páginas da vida. Dá pra lembrar sim, mas nunca é igual. E dói perder alguém. Mesmo que essa pessoa nunca saia do teu coração, vai doer. Mas, a gente sobrevive.

    beijo

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