Sociedade TCC

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Um amigo me confidenciou que o seu maior medo é que todas as suas idéias bem fundamentadas no Trabalho de Conclusão de Curso sejam depreciadas pela má formatação do trabalho. Que tudo se perca por causa das benditas regras da ABNT. Imaginem?

Mentira, nunca ninguém me disse isso.

Eu é que fiquei imaginando uma cena como essa. Na real, um amigo já me falou que acha um absurdo que um trabalho tenha que se dirigir ao leitor de uma forma tão, tão formal e rebuscada, sob pena de não conseguir passar a verdadeira mensagem ao interessado. Isso escutei de verdade.

E é igualmente preocupante.

A nossa sociedade também é assim.

Anula, submete nossos valores e crenças ao padrão que foi estabelecido. Todos passamos por um filtro moralizador, digamos assim, e nos tornamos iguais. Uns iguaizinhos aos outros.

O jeito de vestir, o jeito de reagir, o jeito de rir, o jeito de amar, o que escutar, o que sentir, o que dizer, em que momento dizer. Tudo catalogado.

Esquecemos que esse catálogo não existe de fato. Somos todos, todos, uns diferentes dos outros. Em tudo. Do jeito de andar ao jeito de sentir. Do jeito de crescer do cabelo ao lugar onde vai nascer a próxima espinha.

A sociedade nos torna iguais por inúmeros interesses. Um deles para que possamos sustentá-la. Sendo iguais, tendo os mesmos gostos, seremos consumidores passivos de um mesmo produto. Seja ele de comer ou de acreditar.

E pior que a safada da sociedade sabe que somos todos diferentes. E sabe muito bem usar isso ao seu favor. Ou não. Nossa principal identificação entre os seres de uma mesma sociedade é a carteira de identidade. Uma diferente da outra. Senão pelo nome, pelo rosto. Se ainda assim não pelo rosto, sim pela impressão digital. Ninguém tem a sua igual à do outro. Então, a nossa principal identificação em uma sociedade de iguais é uma carteira que é a verdadeira prova de que somos todos diferentes. Carregamos uma carga genética diferente, tivemos uma criação diferente, fomos repreendidos quando pequenos por diferentes motivos. Algumas coisas hoje são mais proibidas do que outras.

Ter bondade é ter coragem. Ser autêntico é ter coragem.

A sociedade quer os iguais, mas nunca evoluiu por causa da semelhança, mas pela distinção de alguns poucos corajosos. Uns porque lutaram contra a violência quando todos morriam pela guerra. Uns porque foram ao microfone lembrar que nascemos para a paz. Uns porque descobriram fórmulas capazes de fazer a ciência andar décadas. Uns porque escreveram o que viram de tal forma que a história não pôde ser esquecida. Outros porque simplesmente cantaram a vida e gozaram da vida quando na pobreza a sociedade instruiu sentir a tristeza e desistir de tudo.

Os iguais sustentam uma sociedade massiva que se retro alimenta. Os originais contagiam uma multidão que ajuda o mundo a evoluir.

Juliano RigattiSociedade TCC

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  • Luciene - 22 de fevereiro de 2006 reply

    Gostei muito dessa exposição porque às vezes me sinto meio assim: tendo de ser igual enquanto EU sei que sou diferente. Penso diferente, ajo diferente e inclusive discordo de algumas situações as quais me vejo impelida a acompanhar. Porém, vivemos numa sociedade criada justamente pela necessidade de regrar os indivíduos, seja em função do sustento da família, da segurança, enfim, da organização social em geral. Então, nos maquiamos, nos trajamos e assumimos posturas que serão mais ou menos aceitas por aqueles a quem devemos “agradar”. Nessas e noutras, aí só depende de nós: sujeitar-se ao senso comum e ser mais um hipócrita ou romper regras e encarar as conseqüências.

  • Juliano Filipe Rigatti - 22 de fevereiro de 2006 reply

    Sempre gosto dos complementos da Lú. Arredondam minhas idéias, mesmo com uma perspective bem particular. Abração guria!

  • Lucas Colombo - 23 de fevereiro de 2006 reply

    Juliano, muito bom teu ensaio. O penúltimo parágrafo me fez lembrar uma série de pessoas… Imagina o que seria do mundo se não tivessem existido Freud, Gandhi, Einstein, Picasso… Seria tudo um pouco mais “quadrado” do que é. Abraço, Lucas Colombo–>

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