Sobre a gastronomia do Bento

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Meio potinho de sobremesa de mamão bem amassado, seu carrinho em movimentos ritmados e repetidos e, pronto, o Bento já repousa seus olhos fechados sobre suas bochechas brancas e delicadas. Dorme.

Meu pequeno sobrinho e afilhado completa seis meses no próximo dia 15 e fez algo nas últimas semanas de que se lembrará de fazer por toda vida: Bento alimentou-se com comida de adulto. Bento passou a acrescentar frutas à sua dieta de bebê que mama no peito. Já comeu banana, abacate, mamão e chupou minha maçã. E gostou.

Foi assim. Eu vinha da cozinha pra garagem comendo minha maçã, bem belo, quando chamaram minha atenção para o Bento. Ele estava com os bracinhos esticados, lábios em biquinho e olhos concentrados na minha fruta. Eu podia ver aquele círculo vermelho desenhado na íris do pequeno Bento. Segundos depois, graças à generosidade deste que vos escreve, ele já estava com a boquinha encaixada no buraco da minha mordida, dedicando toda sua energia para extrair para si o máximo daquele líquido doce.

Sabem que nos últimos meses o ato de comer, assim como Bento faz um terço do seu tempo de vida, vem me intrigando? Porque muitas vezes, o ser humano não come só para alimentar-se. Óbvio, né? Mas mais. O ser humano também não come só pelo prazer que a comida ou aquela trufa de chocolate cremoso causa em alguma parte do seu complicado cérebro. A gente quer mais do que prazer. Não sei o que agente quer mais. Mas tenho a impressão de que há algo em mim faltando e esse algo será ilusoriamente substituído pela comida. Não te parece? Que às vezes tu comes, comes, comes e a comida ou a fome acabam antes de acabar aquele vazio que tu tens aí dentro? Pensa e me ajuda a responder essa existencial interrogação.

Bem, mas vamos voltar ao que interessa. Eu estava terminando um trabalho da Pós no quarto, quando vieram me chamar. Venha ver o Bento chupar o dedo do pé. Incrédulo, saltei da minha cadeira, dei toda a volta na casa para conferir mais essa desse piá. Pediram-me silêncio. Avancei repousando um pé após o outro para que os meus olhos vissem a cena com toda sua naturalidade. Nem banana, nem mamão, nem abacate, nem a maçã suculenta do tio. O pequeno Bento deliciava-se era com o dedão branco e comprido – sim, de tanto chupá-lo – de seu pé-bisnaguinha direito. Não tirei conclusão alguma. Tem cenas que se justificam só por acontecer. Sorri mais uma vez de admirado que estava com este meu sobrinho.

(Leia mais sobre o Bento clicando aqui).

Juliano RigattiSobre a gastronomia do Bento
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