Travessia para o Ano-Novo

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Por Nilson Souza, articulista do Segundo Caderno do jornal Zero Hora
Publicado em 20/12/2008

Dois-mil-e-nove já nos espreita na esquina enfumaçada do tempo. Aguarda, pacientemente, a sua hora de entrar em cena. Ninguém sabe que cara terá, se será bonito ou feio, se será suave ou truculento, se entrará no palco atirando beijos ou lançando impropérios e sapatos. A única coisa certa é que virá, inexoravelmente, e será o protagonista de nossas vidas por 365 dias. Então, só nos resta uma atitude: fazer dele aquilo que quisermos que ele seja. Para começar, não devemos esperá-lo. Nós é que devemos ir até ele. Tomemos, pois, a iniciativa.

Em vez de ficarmos contando os dias que faltam para a virada do calendário, que tal preenchê-los com esperança? Ainda dá tempo. Amanhã é domingo e todos os domingos são tingidos de exuberância, como esses flamboaiãs floridos que enfeitam as calçadas de Porto Alegre. É um dia abençoado, que sempre nos reserva alguma surpresa agradável. Digo-o por experiência recente: no domingo passado, resolvi dar um passeio de carro com duas crianças da família e tomei uma estradinha de terra lá pelas bandas de Gravataí. Andávamos devagar, num lugar pouco habitado, com árvores dos dois lados. De repente, uma borboleta fluorescente, de um azul intenso, passou a nos acompanhar, como se nos escoltasse pelo caminho desconhecido. Nunca tinha visto uma borboleta daquela cor, com aquele brilho e com aquela disposição de encantar olhares infantis. Foi ela que me vez pensar nesta travessia para o ano que nos espera.

Aproveite, portanto, este domingo que ninguém ainda usou e que pode ser todo seu. Durma até mais tarde, cante no chuveiro, dê flores para quem você ama, abrace um amigo e deseje bom dia para o passante anônimo. Talvez ele retribua com o seu melhor sorriso.

Próxima parada: Natal. Será na quinta-feira, mas já podemos vislumbrar desde agora a noite encantada com suas luzes coloridas, músicas de harpa e fogos de artifício competindo no céu estrelado. Logo estaremos neste cenário de sonhos. Ninguém precisa se apressar, nem dar corda demasiada na bússola das horas. Basta seguir a estrela da manhã. Ou a borboleta.

Então, a travessia ficará restrita à derradeira semana do ano velho. Uma semana inteirinha para ser aproveitada de maneira intensa, para ser vivida prazerosamente, para ser compartilhada com as pessoas que habitam os nossos corações. Parece pouco? É o tempo de vida de uma borboleta fluorescente.

Juliano RigattiTravessia para o Ano-Novo
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