Eu já comi cocô

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Já mesmo. E me lambuzei. Sério, tenho provas fotográficas do feito. Mostro a quem tiver estômago.

Eu tinha meses.

Pelo que constam nos autos da minha infância, fazia calor naquela tarde de domingo. Suponho que tratava-se de domingo porque havia algum desocupado disposto a registrar em foto o saudoso momento da tal degustação, digamos assim. Porque minha mãe, que estava sempre comigo nos dias de semana, nunca meteu-se com essas tecnologias. Bem, pelo que soube, não usei o dedinho. Usei uma chave. Segurei-a dentro da minha então mão-bisnaguinha e levei-a até… bom, o resto é presumível. Só foram perceber a mancha escura em minha cútis germânica tarde demais. Tudo estava consumado.

O que vale dizer aqui – se é que há algo ainda a ser dita e se é que alguém ainda aí do outro lado do monitor – é que, naquela época, valia tudo pra satisfazer o que há de mais elementar na natureza das crianças, desde que saem sangrentas do meio de suas mães: a busca pelo novo.

Mesmo depois que crescemos e já reconhecemos o som da nossa própria mão batendo em objetos sólidos e que não rimos mais das caretas abobalhadas do nosso pai, essa descoberta continua. Só que, ao contrário das crianças, achamos que o adulto, junto de todas as chatices da idade, recebe de Deus o poder de desviar do que é novo, de ignorá-lo, de fingir que ele não precisa mais fazer parte da sua vida. Bobagem!!!

Neste 2009 entrante, desejo a todos os que passam de vez em quando aqui pela Uzina, um ano de coragem e de desprendimento. Para descobrir sem medo tudo de novo que se desenhar em nossa frente. Que enxerguemos as milhares de outras possibilidades que passaram raspando as astes dos nossos óculos e não as vimos porque não estávamos suficientemente abertos.

Também são esses os meus propósitos para 2009, se querem saber. Desejo do fundo da minha alma que eu tenha essa disposição para encarar de cara limpa tudo aquilo que temo sem conhecer. Quero ver lugares que ainda não vi, conversar por um tempo com pessoas que ainda não conversei, sentir o que ainda não senti, fazer coisas que ainda não fiz. E conservar o essencial.

Quero ser, de novo, aquele baixinho gordo e ruivo que, de descoberta em descoberta, ia se admirando com a beleza do mundo a sua volta. Não com o laptop do ano, com a pendrive de dezesseis giga, nem com as protuberâncias femininas. Mas com tudo. Com o reflexo do sol, o rasgo no estofamento do carro ano 76, com a plantinha que quebrada vazava leite, com o bichinho que empurrado virava bolhinha.

Quero ser, de novo, aquele poeta de pouca idade que se admirava com tudo.

Que não tinha medo de experimentar nem a sua própria produção fecal, que não receava a surpresa. Meu Deus, como desejo ser como ele.

E antes que perguntem: pelo que me contam, não gostei do meu próprio excremento, tá? E, embora não me arrependa, isso não desejo repetir em 2009.

Juliano RigattiEu já comi cocô
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