Era uma note sem lua, daquelas bem escuras. Na varanda do sítio, Alam, Felipe e Anita conversavam olhando o final da fogueira que tinham acendido para espantar os mosquitos.
De repente…
… Alan diz: –Vamos dormir, amanhã temos que levantar cedo para uma longa aventura…
… PRIMMM! PRIMMM! PRIMMM!
– Alô! atendeu Felipe.
– Quem é? – Felipe!
– Felipe!!!, vocês estão atrasados!!!, deviam estar lá as 6 horas e já são 8 horas!!! berra Júlio seu patrão.
– Estou indo chefe!
– TRINNNNN! desliga o telefone.
– Alan!!, Anita!!.
– Que é Felipe?. pergunta Alam.
– Nós estamos atrasados!
– É mesmo!!!!!!!!!!!
– Vamos!!! diz Anita…
– HHHHH! Chegamos. fala bem baixinho Anita. Alam, Felipe e Anita caminham mais três passos e… …HÁÁÁ!! HÁÁÁ!!
– PPPUUUMMMM!!! – Onde estamos? pergunta Felipe.
– Tirou as palavras da minha boa! afirma Alam.
– VVVUUUUMMM! – HÁÁÁ!! – PIMMM!
voa uma lança a cabeça de Anita, mas ela consegue se salvar. – TUUFF!! TUUFF!! cai pontas de gelo do teto do castelo em forma de chuva e então o que lhes resta é fugir…
… Quando Alam, Felipe e Anita começam a correr aparecem três carrinhos (de ferro) por um trilho. E então eles três entram nos carrinhos. Alam fica no 1º carrinho e Felipe e Anita no 2º.
De repente chega o fim do trilho e Alam fala desesperado: – Só nos resta é os nossos cabos de aço, para emergências!! – VVuuum!!!! (3 vezes) – PPiiimm!!! (3 vezes).
– Conseguimos!! – grita Anita. Mas derepente um fogaréu aparece em volta deles. Felipe olha bem para o fogo e bem lá dentro do fogo aparece uma estranha luz. Com muita curiosidade Felipe entra no fogo e de lá dentro tira uma caixa de ferro cadiada. Alam e Anita exclamam juntos: – Como vamos abri-la? – Já sei! – diz Felipe. – Co… – Pum!!! – atira com um revólver Felipe – Felipe não mexa nessa parte !!! – Alam!!, olhe lá é o fim do castelo! (das brincadeiras) grita Anita.
– Vamos embora!!! gritam os 3 juntos. E então eles vão embora felizes para sempre.
***
Eu posso lembrar do meu entusiasmo descrevendo e imaginando cada detalhe, característica e reação dos personagens dessa história. Entendo ainda hoje a razão de cada uma daquelas onomatopéias esquisitas com as quais ocupei as páginas brancas de meu pequeno caderno pautado, cuja capa ilustrava duas crianças sós e obesas, bebendo suco de uva Aurora em um piquenique. Anita, Felipe e Alam foram meus primeiros personagens. Ao longo do resto da minha infância, não lembro de outros. Devem ter existido, mas não lembro.
O que lembro e tenho registrado é um erro da educadora que foi testemunha deste texto, o qual pode ter sido a primeira manisfestação de uma criança que desejava imaginar mais, desejava inventar mais, desejava ser, sem saber, um artista. “Procure fazer histórias menores e cuide o parágrafo”. Foi o que ela deixou dito para mim depois desta bela história de aventura, fantasia e emoção, que um guri de nove anos – apenas nove anos! – acabara de criar.
Fala-se muito hoje da educação deficitária que temos no Brasil. Eu também fico intrigado com isso. No mínimo intrigado. Passados 18 anos, quantas professoras de séries iniciais continuam despreparadas para indicar limites, demonstrar interesse, perceber incapacidades, desenvolver aptidões e incentivar o lúdico?
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