O sorriso do Jeison

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Não lembro exatamente o dia em que escrevi o texto abaixo. Foi por esses dias, três anos atrás. Ele serviu especialmente para marcar a época da minha formatura em Jornalismo e também para participar de um concurso do blog do David Coimbra, da RBS.  E não é que consegui ver minha crônica publicada ? E não é que hoje esse texto me traz inúmeras boas lembranças, de uma conquista única?

Este é o O sorriso do Jeison, em lembrança ao meu colega jornalista Juliano Rocha Rangel. Lá vai!

***

O sorriso do Jeison

Só pra ver como a vida é feita de detalhes. E de bons conselhos. Depois de sete anos e meio e de muitos passos dados, março próximo é o mês da minha formatura em Jornalismo. Em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Formatura essa que começou a acontecer mais ou menos um ano atrás. Era uma noite quente de fevereiro. O nome do cara é Jeison. Falar do cara é falar do sorriso do cara. É sério. Ele é do tipo simpático, sabe? Cumprimenta todos, e a todos mostra seu sorriso. Sorriso alegre, cheio de dentes brancos, espontâneo. De quem gosta da vida. O que mudava sempre era o cabelo do Jeison. Nuns semestres, bem curto. Noutros, comprido. Até lembrava um samurai.Eu já conhecia o Jeison de outras cadeiras lá da Unisinos. Isso porque nunca se estuda sempre com os mesmos. Cursamos duas disciplinas juntos? Três? Se muito. Jeison e eu só éramos próximos na lista da chamada. Não fomos nunca amigos. Sempre que os professores o chamavam, pouco antes de mim, eu já o tinha visto: sorriso largo, falando com outros ao redor, lá estava o Jeison, o cara que seria decisivo pra minha formatura.

Como quase sempre, naquele dia o caminho pelo qual atravessava a região metropolitana de Porto Alegre tinha sido longo demais. Eu estava atrasado pra aula. Saía sempre às 18h30min do trabalho e quase nunca chegava a tempo pra aula. Atrasado e esgotado. O dia em frente ao computador e o trem lotado acabavam com minha disposição.

Procurei no celular a anotação do local onde ficava a sala da aula daquele dia. Sala cheia e porta fechada. Saco. Atrairia a atenção de todos. Uma merda prum tímido como eu. Mas uma merda necessária. Abri a porta. Olhinhos todos vieram em minha direção. Escureceu-se quase tudo. Tinha uma cadeira vaga, iluminada. Sentei e tudo clareou. Ao meu lado, o Jeison. E ele foi logo sorrindo quando sentei e disse a ele opa, beleza? Beleza, ele respondeu. Sorrindo.

A aula ia chata quando Jeison puxou assunto.

— E aí, que cadeiras mais tá fazendo?

— Essa e mais três. Nunca mais. Três é o meu limite.

— Bah, pior. Pra mim também — e sorriu.

— Te forma quando?

— Sem ser no próximo, no outro. 2007… — pensei. — 2007 dois — disse eu.

— Bah, legal, eu também — sorriu o Jeison. — Já tá fazendo o Projeto?

— Não, não. Vou deixar pra fazer só o Projeto e o TCC no último. Muita coisa pra agora.

— Ahn…

Pela primeira vez, o sorriso sumiu da cara do Jeison, que disparou:

— Mas,cara, tem que fazer o Projeto antes. Senão não dá. Tem que ser antes.

— Mas, não… sério? Por quê? Agora nem dá… nem tenho mais dias livres. E nem grana.

— Troca por essa de hoje, ué — resolveu o Jeison. — Faz essa depois.

— Será? — franzi a testa toda.

— Claro, cara. Olha, tem que fazer o Projeto agora pra poder te formar em 2007 dois. É sério.

Vi pelo semblante do Jeison que era sério.

— Bah, vou lá na Central agora. Será q tem vaga ainda? — consultei o Jeison.

— Vai logo, meu.

— Cara, tu salvou minha formatura — brinquei, levantando.

Até hoje, sempre que vejo o Jeison agradeço pelo toque e digo, às brincas, que ele salvou minha formatura. A última dessas foi no dia em que a turma tirou as fotos para o convite. Lá na Unisinos. O Jeison, sabe o que o Jeison fez? Só sorriu.

Juliano RigattiO sorriso do Jeison
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