A piscadela do Bento

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O Bento piscou pra mim.

Já anotei a data: cinco de fevereiro de 2009. O Bento, que está com 31 semanas e um quilo e setecentos gramas, deu sua primeira piscadela, e foi pra mim. Pra mim!

Foi assim.

Estávamos minha irmã, minha namorada, a médica e eu na pequena sala da ecografia. Minha irmã deitada, com a barriga debaixo daquele gel meloso, a médica deslizando o tal aparelhinho mágico, minha namorada e eu assistindo. A médica começou a nos explicar o que enxergava naquele monitor dela. Pra mim, os bebês estão sempre imóveis, sentaditos, de perfil, na mesma posição. Sempre. Mas aquela doutora abriu meus olhos e me fez ver! Enquanto ela apontava, passava o seu mouse sobre ele, fazia medidas e mexia naquela espécie de autocad de bebês, eu vi com meus próprios olhos míopes o rosto do Bento. E a mão, e as narinas, e o cabelo, e a sua perna longa, e os lábios, e o dedo que ele chupava e quase tudo. No que, acreditem: ele piscou pra mim! Por Deus, o Bento deu uma piscadela para o titio! Naquela tela turva, os pontos claros formaram o olhinho branco do meu sobrinho e, pisc!, eu pude ver seu sinal.

E se alguém mais naquela sala também tivesse visto e pensado ser para si a piscadela e guardado, feliz e faceiro, pra si o segredo? Se eu não tivesse sido o único, o escolhido? Não, duvido. Ninguém teria a frieza de esconder isso do mundo. Eu fui o predestinado.

Mas e ele podia me ver? Digo-vos que sim. Aposto que sim. Sei lá, webcam integrada ao cordão umbilical. Vai saber o que nos aguarda dessa nova geração. Mais do que me ver, o Bento me piscou.

Só para moá.

Juliano RigattiA piscadela do Bento
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Meu sobrinho é um homem!

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Bento Rigatti Scherer, anotem este nome. Com dezenove semanas de vida, este cara é o meu sobrinho. Um homem. É ainda bem pequeno – coisa de 10 centímetros e menos de 500 gramas, segundo minhas pesquisas –, formado basicamente por um cabeção em cima de ossos, cútis e membros – inclusive o tiquinho –, todos em acelerada formação. Mas embora tão pequeno, ele já é um guri, ele já é um homem. Posso garantir-vos. Querem ver porquê? Desde a décima primeira semana, já era possível observar sua massa encefálica; desde a décima quarta, o seu batimento cardíaco; e agora, seu sexo! Meu sobrinho, o Bento, já possui, portanto: dentes, unhas, um sexo, um coração e um cérebro. Todos devidamente checados. Estão mesmo ali, funcionando harmoniosamente.

De que mais um homem precisa pra viver neste mundo, senão unhas, dentes, cérebro, coração e um sexo? Teoricamente, aquele ser que tem dentes saudáveis, unhas bem cuidadas, sente e pensa com retidão tem tudo para se dar bem nesse mundo, ou não?

Todos os dias, a vida acrescenta uma razão para eu acreditar que não.

Querem ver uma delas bem atual? Digo-lhes: a sem-vergonhice e a pilantragem salvaram a economia brasileira da grande crise econômica de 2008.

Salvaram, eu disse. Do verbo livraram a barra.

Isso porque, até onde sei, o principal motivo dessa crise toda é o excesso de confiança do norte-americano em si mesmo e na sua índole. O risco de vivermos uma recessão a partir da virada do ano, as férias coletivas já concedidas aos funcionários de uma montadora de veículos aqui perto de casa e o preço das frutas cristalizadas importadas. São todos exemplos mais ou menos perto da gente de conseqüências dessa conjuntura. Uma conjuntura desencadeada pelo, repito, excesso de confiança no sistema de crédito dos Estados Unidos. Suponhamos: os caras iam até o banco abrir um financiamento para casa própria. Diferentemente daqui, o banco não tinha muitos requisitos para aprovar este crédito.(Afinal de contas, lidava com um norte-americano, um norte-americano reto). A surpresa: os cidadãos que haviam aberto financiamento garantindo que honrariam suas dívidas não conseguiram fazê-lo. Faliram. Sem receber o pagamento desses milhares de clientes, os bancos também quebraram. Primeiro um, depois o outro e mais outro.

Aqui está a nossa vantagem. Escaldados, os bancos brasileiros não emprestam um centavo sem antes ter a mais absoluta certeza de que o cliente pagará o que deve. Tim-tim por tim-tim. No prazo exato. Temos um sólido sistema de financiamento, é o que escuto por aí. E isso nos beneficiou. Por isso é que eu disse: nossa malandragem nos salvou desta vez.

Bom, voltemos ao Bento. O fato é que ele, o Bento, meu sobrinho-guri, está indo aos poucos. Nada de economia, bolsas de ações ou casa própria. Há coisas mais elementares para aprender. Tem uma que, por exemplo, ele já faz com propriedade. Querem ver? O Bento já deglute. O seu esguio corpo já sorve o líquido amniótico – o delicioso líquido amniótico, hehe – e o processa transformando-o em energia. Que espetáculo, hem?

A próxima lição, Bento, lamento informar que, apesar de menos nervosa do que um pregão da Bovespa, não lhe dará o mesmo prazer das tuas últimas refeições. Pelo contrário. Vais conhecer ninguém menos do que o soluço. E isso, cara, é um saco.

Uma pausa para pensar no milagre da vida...

Uma pausa para pensar no milagre da vida…

Juliano RigattiMeu sobrinho é um homem!
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Meu sobrinho já é um feto!

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Esta é a primeira vez que escrevo aqui sobre meu sobrinho. Meu primeiro sobrinho. E porque hoje é uma data célebre: ele ultrapassa seu terceiro mês de vida, deixando a condição de embrião para assumir a aspecto semelhante ao adulto e tornar-se um feto.

Meu sobrinho existe em seus aproximados 61mm de vida. Já tem genitália externa – embora não saibamos de qual se trata – estômago, bexiga, massa encefálica, além do esboço da coluna vertebral. Possui características de uma pessoa, rosto de gente. As unhas dos pés e das mãos já começaram a se formar (Catarina, se for você que está aí, já tem com o que se preocupar, portanto).

Ainda não dorme, não chora, não pensa, não faz cocô, o feto. Mas já vive. Já deve sentir. Há algumas semanas, na primeira foto que tiraram dele, minha irmã dizia que o então ambrião era todo coração. Estava pulsando incessantemente e procurando a cada dia expandir sua singela forma de vida para outros membros, órgãos e tecidos.

Por enquanto, meu sobrinho, de pouco mais de seis centímetros, é só uma simples manifestação de Deus. Porque só essa força oculta, onipresente, onisciente e onipotente pode fazer com que esse milagre aconteça: com envergadura de um prendedor de roupas, que flutua em uma substancia liquida, que pulsa um minúsculo músculo no seu centro e se transformará em um ser falante, pensante e com polegar opositor em pouco mais de seis meses. Só Deus para depositar nesse desconhecido ser toda sua milenar capacidade de criação mesmo sabendo que tipo de realidade ele vai adentrar. Só Ele.

Juliano RigattiMeu sobrinho já é um feto!
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