Natal: faça a diferença!

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Sou cristão e católico. Mas não tenho problema algum em viver o Natal inventado pela Coca-Cola ou pelo cartunista alemão Thomas Nast[3], em 1886 na revista Harper’s Weeklys. Vivo pinheirinhos de Natal reluzentes, Papai-noel vermelho e branco e presentes desde pequeno, desde sempre. E, desde sempre, acredito que essa é a época propícia para realizarmos a famosa corrente do bem.

Faça alguém feliz. Não só com presentes e chocolates, mas com abraços, sorrisos e palavras de incentivo e generosidade. Essa é a noite para revelar o teu amor e a tua estima por alguém. Vai, experimenta. Liga, manda um torpedo. Tens o poder da criação. De criar alegria em um coração submerso pela rotina e pela insegurança. Tens o poder de encher de auto-estima quem não precisa mais de bens materiais, mas de um amigo e de palavras sinceras. Vai, experimenta.

Em um mundo tão frio e tão egoísta, só um “Feliz Natal e Próspero Ano-Novo” já é muito pouco. Os cartões impressos aos milhares nas gráficas já fazem o mesmo. Aproxime-se de verdade de alguém e avance nos desejos de Natal.  Faça mais do que só desejar. Faça a diferença. E seja mais um elo na corrente do bem que o mundo tanto precisa.

Um Natal feliz e transformador pra ti!

Juliano RigattiNatal: faça a diferença!
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Devemos nosso Natal às toalhas de banho

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As pessoas vivem nesse mundo movidas pelas teses que criam para si mesmas. Sobre a cerveja preferida, sobre loiras e morenas, sobre o juízo que os outros fazem de nós, sobre a existência de Deus e a inexistência do Papai-noel, sobre o caro e o barato, sobre as razões que impedem nossos sonhos de se concretizarem, sobre o valor do voto em branco, sobre o tamanho das torcida da dupla Grenal, sobre tudo. Para tudo, cria-se teses. E é a crença reta nas teses que criamos para nós mesmos é que nos traz mais ou menos paz.

Acabei de formular mais uma tese pra mim. Sabem qual é? A que afirma que as toalhas de banho com extensas bordas de tecido decorativo são as causadoras de todo o mal capitalista e da infelicidade humana.

E minha tese dirige-se especialmente ao Natal.

Querem ver uma coisa? Olhem bem pro Natal, mas olhem nos olhos, e me digam qual é o seu verdadeiro sentido. Me digam. É uma data cristã, que referencia o nascimento do mais importante de seus homens, Jesus Cristo, e que significa para nós, homens e mulheres, um tempo de renascimento. De reflexão, de fechar-se para balanço. Basicamente, isso. A troca de presentes serve para tornar concreta a intenção de fortificar os laços de afeto entre as pessoas, por isso elas os usam, os presentes, como sinal da amizade, do amor ou até da reconciliação.

Isso, pra quem não sabe, deveria ser o Natal.

Mas e o que é o Natal hoje? Nada. Ele é a borda de 20cm de tecido decorativo localizada na extremidade da toalha de banho. É um nada. Ele é pior do que o nada. Porque o tecido decorativo ou o crochê da toalha de banho não só deixam de secar, como espalham a água pelo corpo. Assim, é o Natal. Decorativo e completamente inútil. “Por mim, podíamos pular o Natal e ir direto pro réveillon.” Ouvi isso dia desses lá no trabalho. Ah, por mim, do jeito que está, também podia. Riscar o 25 do calendário. Porque as pessoas correm, correm e correm no mês mais curto e mais cheio do ano, geralmente para comprar um bem que vale muito menos do que pagam por ele, e presentear sem ao menos olhar nos olhos. E amigos secretos com listas de presente, então? Artificialismo puro. E as tais tradições da mesa, o que são? Quem explica a necessidade quase existencial de servir muito mais do que se pode comer, entre perus, panetones, compotas com creme de leite, salgados e guloseimas especiais?

Nosso Natal virou um nada, recheado com um grande vazio. É isso que ele virou.

Quando tudo não é ainda pior. Porque é nessa época de festas de fim de ano, quando celebramos o nada, que os assaltos a estabelecimentos comerciais aumentam. Trabalho num deles e sei disso. No fundo, bem no fundo, a gente sabe porquê esses assaltos aumentam, né? Porque há milhares que também gostariam de participar conosco dessa gastança e não podem. Por isso, roubam e até matam. Para saciar sua própria fome e a fome dos seus? Nesses dias do ano, não. Cometem toda sorte de delitos como se gritassem, como se suplicassem a nós para que os deixemos participar da celebração do nada.

Por isso, abaixo às toalhas de banho com seus 20cm de tecido decorativo! Sumam com elas de nosso meio! Porque, não secando nossos corpos e cabelos molhados, elas só nos fazem lembrar que há, entre nós, a cultura do inútil, do vazio e das celebrações sem sentido algum.

Juliano RigattiDevemos nosso Natal às toalhas de banho
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Façamos um bem

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O desejo de mudar o mundo destruiu nossa vontade de fazer o bem.

E tem tanta gente que cruza os braços com a desculpa da impotência.

Venham cá, vocês lembram da historinha do menino salvador de estrelas? É assim:

Conta que um gurizinho passava o dia inteiro na beira da praia recolhendo da areia as estrelas que haviam sido largadas ali pela espuma da onda no mar. Reza a lenda que não se via um grão de areia naquela praia tal era a quantidade de estrelas que sofriam ali, morrendo no calor daquele solo salgado. O piá tirava as estrelas do chão e, uma a uma, jogava de volta ao mar. E ficava alguns segundos parado, admirando o movimento da água e o mergulho da estrela.

E as estrelas nunca acabavam. Pelo contrário. A areia estava sempre cheia, mais e mais, de estrelas sedentas do mar. No que um sábio aproximou-se do rapaz e perguntou o que ele achava que estava fazendo. Com a razão que lhe tomava a mente, afirmou ao garoto que nunca, nem até o fim de sua jovem vida, ele salvaria todas as estrelas. Nunquinha. Já-mais.

Como se o tal senhor não estivesse ali, ao seu lado, dizendo aquelas palavras duras no seu ouvido, o garoto abaixou-se, desgrudou mais uma estrela enferma do chão e lançou-a ao mar com ainda mais ânimo. De forma que ela foi parar muito mais longe do que todas as outras. Esperou o buraco fechar-se na água, voltou a por-se de pé, restabeleceu o fôlego e disse ao velho, como quem analisa e orgulha-se de cada palavra: “Para esta últim estrela, meu senhor, eu tenho certeza que fiz a diferença”.

De fato, o jovem nunca terminou o seu trabalho lá, na beira daquela praia. E nunca mais, ao longo dos tempos, ouviu-se falar do velho sábio.

Este jovem da bonita história que relembrei nunca usou como desculpa sua importência em salvar todas as estrelas. Nunca sequer ousou deixar com que a dificuldade da missão esmorecesse a sua vontade de fazer o bem, de salvar a vida de uma única estrela.

Lá na empresa onde trabalho, este Natal foi mais um exemplo de como cada um pode sempre fazer um bem. Um só. Um só bem para alguém. Porque o todo, bem, o todo todos farão.

As árvores de Natal lá do trabalho tinham pendurados em seus ramos nomes de crianças carentes, ligadas à alguma entidade beneficente de Porto Alegre. Qualquer um que quisesse, poderia ir até a árvore, pegar um papel e adotar simbolicamente uma criança. Até uma data determinada, todos tinham trazido de volta o nome do pequeno com um presente ou uma roupa. Não vi ninguém que tenha pego todos os papéis de uma árvore. Assim mesmo, as árvores ficaram todas vazias.

Fazer um brinquedo, uma roupa nova ou um prato de comida quente chegar a um pequeno nunca será um gesto perdido. Mesmo que seja um. Mesmo que nem todas recebam este bem. A quentura de um pedaço de pão, o colorido de um pedaço de plástico, de um pedaço de pano. Todos terão devolvido para aquela pequena estrela, sem ela saber, a sensação inestimável da esperança.

Juliano RigattiFaçamos um bem
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A lição dos Amigos Secretos

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Prometam uma coisa. Uma só coisa. Seja no trabalho, entre os amigos, no futebol do marido, na creche da filhinha ou com a família, prometam somente uma coisa neste fim de ano: participem e valorizem os Amigos Secretos – ou os Amigos Ocultos, se preferirem.

Mais que isso. Façam isso não só neste mês. Valorizem-nos para todo o sempre.

Há uma boa razão. O Amigo Secreto, na sua forma original, lá na nossa infância, no deixou uma fundamental lição. E por isso, pelo legado que ele nos deixou, devemos reverência a ele. O Amigo Secreto nos ensinou, desde cedo, o significado da mais importante mazela da nossa sociedade: a injustiça.

Sei que é quase inacreditável, mas eu lembro como se fosse hoje.

Nunca mais um Amigo Secreto foi o mesmo desde o dia em que um boné verde fosforescente da Colcci – à época em que qualquer um comprava qualquer coisa da Colcci – veio ofuscar a minha visão de guri da quinta série do primeiro grau. Ele era horrível, detestável e, sobretudo, vexatório. Eu não podia acreditar que teria que agradecer e dizer que havia gostado daquele presente estúpido e de inacreditável mal gosto. Eu não podia crer nisso. Pela primeira vez em todas a minha curta vida até ali eu estava sentindo o gosto amargo e repugnante da injustiça.

Eu que havia comprado um presente de qualidade, escolhido a dedo, daqueles que se escolhe pensando na pessoa, sabe? Eu mesmo tinha sido injustiçado. Por que aquele boné estava ali, na minha mão? O que ele tinha a ver comigo? O que ele queria de mim? O que ele queria me ensinar? Para que servia aquele objeto bizarro e brilhoso senão para ensinar-me a dura lição da injustiça?

Não suportei.

Desejava dizer à Monique, acho que esse era o nome da minha algoz, que eu não gostara do presente. Que, na verdade, eu o detestara. E, amigos, eu o disse. Meio acanhado, mas disse. E dois dias depois ela veio colocar na minha mão a nota fiscal que me autorizada trocar o tal boné. E assim foi feito.

E sei que isso já aconteceu com todo mundo. Todos, invariavelmente todos, já foram injustiçados na infância por um inocente e bem intencionado Amigo Secreto de final de ano. Todos.

Mesa grande, torta no centro, cachorrinho-quente, refrigerante em garrafa de vidro, brigadeiros, branquinhos, pasteizinhos dourados, cores e mais cores. Em um instante, tudo ia à ruína. Todo o encanto da festinha de final de ano e da surpresa que aguardava o momento das revelações, tudo desmoronava. A realidade se transfigurava enquanto você abria o pacote de presente e de dentro dele surgia uma dessas criaturas repugnantes. Porque era isso mesmo que eu via quando rasgava o papel colorido e avistava um par de meias, ou um baralho, ou um dominó, ou uma carteira do He-Man com figuras reluzentes que se alternam com o movimento do objeto. Repugnantes, era isso que eram aqueles presentes.

Na maioria das vezes, eu deseja, como toda a energia do meu ser, estar com o presente que eu mesmo havia dado. Sem sombra de dúvida que ele era melhor. Enquanto escolhia o presente, eu ainda conservava a empatia, o carinho e a preocupação com a satisfação do outro. Mas eles não. Eles nunca me respeitavam. Eu era, pela primeira vez, um injustiçado.

Mas teve uma vez, uma única vez, que eu também servi deste veneno. Mas sem culpa.

Estávamos às vésperas da festinha da escola e eu ainda não tinha comprado o presente do Luiz Fernando. Na real, não imaginava o que dar. Minha mãe veio com a solução. Como ela estava indo para o centro, passaria em uma loja qualquer e compraria uma camiseta. Topei.

“Mas nós?!”, eu reivindicava uma explicação convincente da minha mãe. Por que ela havia escolhido aquela camiseta que ensinava a fazer nós de marinheiro? Por que, meu Deus? Surf, futebol, marcas, mulheres, tudo bem, mas nós?

Luiz tinha a cara da injustiça no dia seguinte. Certamente, ele se fazia a mesma pergunta que eu havia feito à minha mãe há um dia. Por que nós? Com que cara eu olharei para as pessoas quando, mesmo sem ser um marinheiro, eu estiver vestindo uma camiseta que ensine a fazer nós?

Mesmo sem o peso da culpa, eu havia dado seqüência àquela sina. A de que os Amigos Secretos todos, sem exceção, surgiram na vida das crianças para que elas, desde cedo, aprendessem o gosto amargo da injustiça.

***

Não, gente! Há muitos anos que isso vem sendo diferente. O Amigo Secreto da empresa que revelamos esses dias, por exemplo. A Bel acertou em cheio. 🙂

Juliano RigattiA lição dos Amigos Secretos
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