Temos o mundo inteiro no nosso quintal

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Lembro como se fosse agora. Eu brincava de Comandos em Ação e sempre que havia algum tiroteio ou uma bomba explodisse, eu piscava os olhos. Mas piscava numa velocidade inimaginável para os adultos, abrindo e fechando os olhos, enquanto o inimigo era destruído, aniquilado. Minhas bochechas inchavam de ar e minha boca produzia os efeitos sonoros do bombardeio. Enquanto meus olhos piscavam. Ininterruptamente. Era o efeito precursor do efeito três dê. Som e luzes na maior batalha daquele turno de aventuras. E como eram emocionantes minhas brincadeiras com os Comandos em Ação. Como eram.

Meu afilhado e sobrinho Bento, com seus dezenove meses de adaptação a este mundo, já pode dizer que possui cinco grandes amigos – além, é claro, do Prendedolho e do Ventoso: o Pablo, um pinguim azul – a quem o Bento, intimamente, resolveu chamar de “pá” –; o Tyrone, um alce cor de alce; a Uniqua, um bicho cor-de-rosa sem definição de espécie, que instiga a criançada a começar a pensar em extraterrestres; a Tasha, que não é uma segunda filha da Xuxa, mas uma simpática hipopótama amarela; e o canguru Austin. Os cinco amigos são personagens do desenho animado Backyardigans, conhecido também como série musical, sensação entre as crianças deste nosso tempo. E sabem o que fazem os Backyardigans para encantar as crianças e os pais das crianças? Brincam no quintal de sua casa. E piscam os olhos e enchem a boca de ar. E imaginam um mundo que, aparentemente, não existe.

Qual a tua relação com o mundo? E como tu te relacionas com as pessoas? E o que significa a natureza e as inúmeras outras cenas com as quais tu te deparas diariamente? Muitos anos depois da última brincadeira com os Comandos em Ação e bastante tempo antes também de segurar o Bento nos meus braços pela primeira vez, fui apresentado ao documentário Quem Somos Nós.

O documentário, produzido em 2004, ensina física quântica. Mas não do jeito complicado com que tu deves estar imaginando. A sua principal lição é que, constantemente, podemos piscar os nossos olhos ininterruptamente e encher nossa boca de ar para produzir imagens e sons diferentes. Ele prega que podemos ir até o quintal de nossas casas e transformá-lo em uma nave da Nasa, em um navio de piratas ou em um campo de futebol do Brasileirão. Tudo com a imaginação.

Mas a mente não produz só imaginação.

A nossa mente, como bem sabemos, comanda tudo. Nossa relação com o mundo, nossa relação com as pessoas, nossa relação com a natureza e com todas as cenas com as quais nos deparamos. Nossa mente tem o poder de criar, de transformar, de multiplicar possibilidades. Ela tem o poder, se quisermos, de captar uma das milhares de possibilidades que passam à nossa frente a cada instante e torná-la realidade.

E pra que serve isso? Para sermos mais felizes, basicamente. Os Comandos em Ação, os Backyardigans e o Bento, com pouco mais de um ano de sabedoria, são sinais de felicidade para mim. Tudo porque, querendo ou não, sendo bom ou não pensar assim, minha mente é completamente responsável pelo que sinto, por como vivo.

O lugar onde estás nesse momento, lendo este texto, certamente possui um significado para ti. De um lugar agradável, de um lugar agitado, de um lugar pouco aprazível. Seja lá qual for, não importa. O que importa é que este significado está sendo produzido pela tua mente. Tu, involuntariamente, atribuis um significado a tudo o que vês, a todos que conheces, a tudo o que vives. Tu escolhes o significado para tudo.

E, por isso, tudo pode ser diferente, nos ensina Pablo, o pinguim criativo dos Backyardigans.

De mais uma crônica sobre a primeira infância do meu amado afilhado Bento, isso aqui virou um texto de auto-ajuda, alguns pensarão. Pode ser. E não gostarão deste texto. Também pode ser. Porque ninguém gosta de auto-ajuda. E eu sei bem porquê.

Porque todos, me incluo, preferimos, não sei a razão, vivermos no entediante quintal de nossa casa, sem piscar os olhos e sem encher as bochechas de ar. Preferimos deixar nossa mente imaginar o que quiser, com o pessimismo que é próprio dos animais, atentos à próxima ação de seu predador. Em geral, as pessoas desdenham livros de auto-ajuda. Estranhamente, essas pessoas são as mesmas que nunca puseram em prática nenhuma das absurdas sugestões do autor.

Estranhamente, tem gente que prefere acreditar em suas limitações. Tem gente que até prefere pensar que sua vida não tem mais sentido, enquanto ignora dizerem que tem o mundo inteiro em seu próprio quintal.

Os Backyardigans

 

Juliano RigattiTemos o mundo inteiro no nosso quintal

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3 comments

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  • Elisa - 14 de novembro de 2010 reply

    Que texto diferente Ju! Mas igualmente maravilhoso! A Juju me ajudou a enxergar esse mundo tb!
    Bjs!

  • Ana Paula (a mãe) - 14 de novembro de 2010 reply

    Como sempre, inteligente…
    Fiquei aqui pensando, o quanto deixamos de olhar para dentro de nosso quintal… o quanto poderíamos encontrar as soluções de nossos problemas dentro de nosso próprio quintal e não no do nosso “vizinho”. Nosso quintal tem um mundo cheio de idéias, imaginações e soluções. Basta olharmos um pouco para ele ou pelo menos, lembrar da época dos “Comandos em ação” ou da “Fofolete”.

  • Ana Thiesen - 16 de novembro de 2010 reply

    Excelente texto, Ju! És um pensador da nossa época!!!! Sem exageros.

    Quanto a crítica aos livros de auto ajuda é bem por aí, só que isso não é coisa do nosso tempo, Sócrates lá em 420 a.c. já dizia: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus”.
    É de se pensar se não está na hora de olharmos pra dentro de nós mesmos e buscarmos respostas diferentes para as mesmas questões, não?

    Grande abraço,

    Ana Thiesen

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