Espelho meu: Léo Ohlweiler de Oliveira

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O Léo vai ser pai. E confidenciar isso para os três leitores do meu blog – quatro, com o Léo agora – é muito mais notícia pela forma como aconteceu do que pelo fato em si. Porque, ter um filho, todo mundo que conhece minimamente o Léo sabia que isso ia acontecer mais dia, menos dia. Não que o meu ex-chefe e amigo Léo fosse um namorado imprudente. Não por isso. Gravidez indesejada não combina com o Léo. Sabíamos, isso sim, que ter um filho sempre fora um desejo do Léo. Agora, que isso se sucederia, tipo agora, por esses tempos, não, isso não dava pra prever. Quer ver por quê? Há pouco mais de um ano, todos podiam dizer que o Léo vivia um típico relacionamento sólido. Sabe aqueles que começam bonitinhos, romanticuzinhos e vão progredindo? O Léo mostrava fotos, falava dela, orgulhava-se dela. Saiu de casa, comprou apartamento, videogame e foi morar com ela. Pediu que a chamássemos de esposa. Passamos a chamá-la assim. Conheci o tal apê com o casalzinho lá, bem belo, bem romanticuzinho.

O causo é que eu dirigia-me pro carro do meu pai, no estacionamento da empresa onde o Léo e eu trabalhamos, para o primeiro ou segundo encontro com a Samanta, minha namorada. E primeiro ou segundo encontro mal-intencionado com alguém do sexo oposto todos sabem bem como é que é, né? Não é exatamente o dia mais adequado para qualquer outra coisa acontecer. Tudo precisa dar certo, você não pode perder o papelzinho aquele que pedem na cancela; é o dia em que aquele bife de fígado do almoço não pode fazer mal; e também é o dia em que a conversa, o bom papo, precisa vir assim, ao natural, sem gaguejar. Nesse dia o nome do chefe não pode aparecer no identificador de chamadas do celular. Não é hora inclusive de o ex-chefe ligar para dizer que acabou o relacionamento. Que está solteiro e que quer fazer festa. Não, não é a hora. Mas foi isso mesmo que o Léo revelou. Como sempre, em quase todo fim de namoro, aquilo que parecia romanticuzinho, bem belo, não era nem romanticuzinho, nem ia tão bem assim. E como eu já sabia que o Léo não era bem o cara de voltar atrás em coisa tão séria, entendi, era o fim.

E o fim consciente de um relacionamento é sempre uma decisão que constrói muito mais do que destrói. Um casal se vai, mas outras duas pessoas surgem. Mais fortes, mais sábias, prontas para desbravar um mundo de possibilidades.

Não que nesse mundo de possibilidades houvesse chance de acontecer o que o Léo me contava enquanto eu me escorava na máquina de café aquela manhã.

Eu tinha avisado que não, não estava sentado e que ele podia, sim, contar o que ele tinha feito. Namorando? Como, namorando? Mas já? Quem? Tua tia, irmã da tua mãe, aquela bonitona? O Léo acabara de me comunicar que estava namorando uma mulher, separada, com um filho, um pouco mais velha. Só isso. Isso tudo, convenhamos, já é bem natural. Mas a sensação foi outra. A tal namorada não era só uma mulher. Era a minha ex-chefe. Era a ex-chefe do Léo. E essa ficha demorou para cair.

Foi cair no aniversário dela, para o qual Samanta e eu fomos convidados. Num barzinho da Cidade Baixa. Sem dizer isso um para o outro, todos estavam ali só por uma coisa: o beijo. Todos queriam, como eu, era ver o beijo, um selinho que fosse, do Léo na Teresa. Sabe quando tu és criança e a o pai beija a mãe na tua frente? Eu lembro de pedir pro meu tio beijar a então namorada e imediatamente me esconder atrás da cortina da sala. Não via nada. De pura vergonha. (Se esse blog tem um quinto ou sexto leitor, e ele for psicólogo, já deve ter tirado meia dúzia de conclusões sobre esse meu quase trauma de infância.) O fato é que o Léo e a Teresa beijavam-se aquela noite como pai e mãe – seja lá o que isso signifique pra você –, e estavam mesmo namorando e aquilo era ainda meio intragável.

Eu e Léo em 2005

Eu e Léo em 2005

O Léo é do tipo bruto. Foi do exército e faz questão de que todos saibam sem que ele conte absolutamente nada. Mas também ama. É um cara que primeiro aprendi a obedecer, depois respeitar, depois escrever o sobrenome, depois confiar e, enfim, admirar. Pelo que me ensinou, pelo tanto que confiou em mim e mostrou-me que eu era capaz. Ele foi quase um Shinyashiki pra mim, só que com uma dose a mais de pragmatismo. E a Teresa. Bom, antes de chefe do chefe a Teresa era – lamento Tê, pela revelação – um mulherão. Daquelas de tornar o ambiente de trabalho sempre um pouco mais, digamos, ahn… vamos ver… um pouco mais… ahn… bonito. Lembro de uma vez, eu assistente, guri, novato, recebendo a nobre incumbência de, eu juro procês, escanear fotos suas com pouco mais ou pouco menos de vinte aninhos, de maiô cavado, concorrendo à garota-alguma-coisa de Porto Alegre. A Teresa me alcançou uma a uma e pediu, olhem a tortura, sigilo absoluto. Ela queria digitalizar os arquivos, mas não queria que ninguém a visse daquele jeito indecente. Ninguém. Viu, magentinha? Nin-guém. Se eu cumpri? Claro, ué. Minha chefe. Chefe do meu chefe. Nem dar uma olhadela nas fotos eu podia porque quem entrava na sala dava de cara com o meu monitor. Ô, Tetê, hem? Tu continua com esse par de pernas?, podiam perguntar. Imaginem! Nem brincando. Anos mais tarde, o Léo até me contou que achou as tais fotografias enquanto fazia uma limpeza no computador. Mas isso nunca contaremos à Teresa. Bom, mas, sobretudo, a Teresa se dava o respeito, como se diz. Minha ex-chefe do chefe tinha o poder pela liderança que exercia e não o contrário, que é o mais comum e nem sempre saudável para o ambiente de trabalho. O tipo de mulher século vinte e um, sabem? Pra frentéx, dinâmica, bem sucedida, comprometida com o lar e com o trabalho.

Por isso que saber do noivado dos dois, do Léo de mudas pra casa da Teresa, da amizade que o Léo conseguiu estabelecer com o Felipe, filho da Tê, e do filho que eles vão ter juntos não é mais notícia. Me refiro à inusitalidade, ao incomum, insólito, estranho, inabitual. Isso tudo já foi esgotado aquela manhã, coisa de um ano, enquanto eu me escorava na máquina de café e era informado do namoro dos dois. Agora, tirando a avaliação quase jornalística com a qual acabo de chateá-los, o que não dá pra fazer é ignorar o que esse bebê traz de sublime, grandioso, augusto, esplendente e excelso para o Léo, para a Teresa, para esse casal. Que Deus abençoe essa união e que o Miguel ou a Isadora venha com saúde. Porque para o resto tenho a impressão de que o meu ex-chefe e a ex-chefe dele saberão indicar o caminho.

Abaixo, Léo entrevistado:

– A palavra mais bonita da língua portuguesa: amor
– A mais feia: não
– O pior defeito da nossa sociedade: Aquela velha mania de fazer tudo errado porque acha que todo mundo faz… “Eu jogo lixo no chão… Todo mundo joga mesmo…”
– Como achas que os outros te vêem? Como um homem muito bravo. Que leva as coisas a sério demais. Muito crítico, sincero e transparente.
– Qual tua idéia de domingo perfeito? Céu azul, sol brilhante, poucas nuvens, sons de passarinhos brincando nos galhos das árvores que são balançadas por um vento de leve, aquele calor gostoso que a gente não chega a ficar suando… No ar aquele cheirinho de churrasco, meu pai assando a carne e ouvindo o Programa de Esportes na Rádio Gaúcha, meu irmão mais velho conversando com meu pai sobre política, minha mãe na cozinha preparando a maionese, minha esposa conversando com a minha cunhada e brincando com a minha sobrinha, meu irmão mais novo com sua namorada – que é nossa prima – brincando com o Dilan (seu labrador cor de mel) e no portão do Sítio (sim, estamos no Sítio do meu pai: “Recanto dos Oliveiras” em Gravataí) vejo minha irmã com seu namorado que acabaram de chegar. Ah, e eu estou colhendo algumas laranjas com o Felipe (filho da Teresa, minha esposa).
– O que queres estar fazendo e onde queres estar vivendo com 60 anos? Morando em algum lugar tranqüilo (provavelmente no campo ou praia) dando total atenção a minha família.
– Qual tua memoria mais antiga? Bah… Tem que ser uma só? Eu tive uma infância muito rica.
Minha família me propiciou momentos inesquecíveis. Meus pais sempre passaram muita dificuldade pois vieram de famílias mais humildes mas muito trabalhadoras. E além disso tiveram quatro filhos (três meninos e uma menina)… Como não lembrar do primeiro videogame que tivemos, da temporada de piscinas e carnavais no Paladino Tênis Clube, do campinho de futebol que construí com meus amigos do bairro, das reuniões dançantes com meus amigos da escola… Mas eu posso selecionar uma memória muito antiga que ficou fragmentada em minha mente. Lembro que há mais de 20 anos atrás íamos muito ao cinema, ali na Rua da Praia. Por sermos uma família numerosa e as coisas não serem tão acessíveis como hoje eu diria que ir no cinema naquela época era um dos nossos maiores programas. E os sucessos? Os Trapalhões, é claro!
– Qual tua idéia de felicidade? Felicidade são momentos em que fazemos tudo da melhor maneira possível e aproveitamos o tempo da mesma forma. Para mim é estar com a minha família e sentir que estou contribuindo com o mundo.
– Onde gostarias de viver hoje? Em algum país no exterior. Estados Unidos, Irlanda ou Austrália.
– Onde gostarias de passear agora? Flórida, nos Estados Unidos.
– O que deixarias de fazer se a Internet acabasse? Deixaria de receber e enviar e-mails.
– Se pudesses eternizar alguém, quem seria? Ninguém. Acho que temos uma missão a cumprir aqui. Quando cumprimos encerra-se o nosso ciclo de vida. Algum tempo depois outra vida se inicia e assim outro ciclo tem início…
– O que é a morte pra ti? O encerramento de um ciclo de vida aqui na Terra.
– O que tu fazes que te dá muito prazer? Até hoje eu não sei se digo que sou iluminado por ter prazer em tudo o que faço ou que sou iluminado por fazer tudo o que me dá prazer…
– O que fazes para espantar a tristeza? Escuto e canto alguma música do U2.
– Um filme: Ah cinema… Amo cinema! Escolher um filme é como estar em uma churrascaria e ter que escolher entre a picanha, costela ou maminha… Cinema Paradiso
– Um livro: Um livro não, mas uma série de livros que influenciou minha criatividade…
“Escolha sua Aventura”, editada pela Ediouro há mais de 20 anos atrás…
– Um som/música: Gosto de muitos sons. Vento, chuva, mar… Mas agora escolheria U2.
– Um cheiro (sugestão aceita, Léo): Cheiro de grama, principalmente aquele de grama recém cortada. Me lembra aqueles jogos de futebol da minha infância em que jogávamos até de pés descalços…
– Um lugar: Gravataí.
– Um site: www.google.com
– Uma coleção (que tens ou já tiveste): Coleciono materiais nacionais e importados do U2.
– Um doce: Chocolate e doce de figo.
– Uma bebida: Guaraná
– Um prato: Churrasco
– O que já cozinhou de mais extravagante (da torrada com orégano ao pato ao molho de laranja)? Churrasco de testículos de boi.
– O conselho que nunca esqueceu: Aprendi com meus pais (ensinamentos de Cristo):
Trate os outros como gostaria de ser tratado. Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você.
– Um pensamento: Sou luz, sou paz, sou harmonia. O mundo conspira a meu favor!

Juliano RigattiEspelho meu: Léo Ohlweiler de Oliveira
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