Vivamos um dia de cada vez

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No último dia do mês de dezembro, com algumas diferenças de fuso-horário, alguns bilhões de seres humanos comemoram a chegada de um novo ano. Uns com mais recursos, outros com menos. Uns com espumante importada e lombo assado, outros com lentilha e sidra de maçã. O que iguala a todos é o sentimento de que o ano que virá será melhor. Todos terão um ano inteiro para ter mais saúde, mais dinheiro, mais sucesso, e até mais fé, mais amor, mais paz. Um ano inteiro eles pensam que terão, e comemoram exatamente por isso. O que diferencia um depente químico de todos os outros bilhões de seres humanos iguais é a sua capacidade de reconhecer que ele não tem o ano todo. Ele não tem os próximos meses. Ele não tem um semestre e depois o outro. Só o que ele reconhece que possui, com orgulho e gratidão, são as próximas 24 horas.
O fato de vocês saberem que só o que vocês têm são as próximas 24 horas, e não um ano inteiro, os coloca em grande vantagem na relação com todos os demais. Neste momento, listas e listas de desejos, promessas e propósitos estão sendo escritas por pessoas que acham que têm o ano todo. Elas não tem! Quando descobrem isso, ficam nervosas, começam a ir a terapeutas e passam a tomar medicação para a ansiedade. Porque ansiedade é a doença do excesso de futuro.

Em 1871, William Osler, um dos médicos britânicos mais famosos de sua época, discursou aos alunos de uma universidade de seu país, e explicou o que descobriu 42 anos antes, e que considerava o segredo de seu sucesso até ali.

Contou-lhes que dias antes daquele discurso, ele havia atravessado o Atlântico num grande navio, e observou que o capitão, da ponte de comando onde estava, acionava um botão, um ruído de máquinas iniciava e, imediatamente, várias partes do navio eram isoladas uma das outras em compartimentos hermeticamente fechados. O Dr. Osler disse aos estudantes:

— Ora, cada um dos senhores constitui uma entidade muito mais grandiosa do que o transatlântico, e está destinado a uma viagem muito mais longa. O que insisto em que façam é procurem aprender a controlar de tal modo o seu maquinismo que isso lhes permita viver em compartimentos diários hermeticamente fechados, como o meio mais certo de conseguirem realizar uma viagem segura. Vão à ponte de comando para ver se, ao menos, as grandes anteparas estão em ordem. Apertem um botão para ouvir, em todos os níveis de sua vida, as portas de ferro isolando o passado, os dias mortos de ontem. Toquem noutro botão e separem, com uma cortina de aço, o futuro, os amanhãs que ainda não nasceram. Então, estão salvos, salvos por um dia!

Ao voltar a pensar na vida de cada um de vocês, irmãos, percebam a sutileza da diferença entre preparar-se e preocupar-se. A cada dia devemos preparar e planejar nosso dia de amanhã, o mês que virá, como seres pensantes e responsáveis que somos. Até mesmo o médico da pequena história anterior recomenda que se vá até a ponte de comando para ver se as grandes anteparas estão em ordem antes de apertar o botão. Não podemos e nem devemos, porém, nos ocupar com antecedência daquilo que será o dia que ainda não chegou.

Para finalizar esta reflexão, convido-os agora a ler o evangelho de Mateus, capítulo 6, de 25 a 34, prestando a atenção especialmente no versículo 34. Depois, rezem um Pai-Nosso, não pedindo para que o pão da semana esteja garantido, mas desejando, com muita fé, que o pão de cada dia seja vos dado hoje.

Abençoadas 24 horas para todos vocês.

Juliano RigattiVivamos um dia de cada vez
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