O Papai Noel existe

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Não lembro como foi pra mim lidar com a descoberta sobre a inexistência do Papai Noel. Sei que eu  acreditava muito nele, que o aguardava mesmo sabendo que ele nunca se deixaria ser visto, mas a circunstância como soube que ele era uma invenção dos adultos é um buraco negro na minha infância. Não há memória alguma. Mas com o Bento eu soube esta semana com detalhes como aconteceu.

Não é difícil supor que a forma com que as crianças descobrem este tipo de coisa em 2017 passe pelo fator tecnologia. Um blog, um vídeo, um trecho de um enciclopédia digital colaborativa, um gamer que dá com a língua nos dentes enquanto narra sua saga naquele jogos de cenário e heróis quadriculados. São todas possibilidades deste novo tempo. Então imaginem a seguinte cena, ambientada na casa do meu afilhado de oito anos: todos haviam saído, e há, em frente ao pinheirinho de natal, um smartphone plugado na tomada, com a câmera ligada no modo vídeo e o foco posicionado para a porta de entrada da sala. Filmando.

Vejamos como tudo começou. A Ana, minha irmã, o Bento e a mana Betina aguardavam na rua, dentro do carro, enquanto o Luís, o pai, manobrava o outro carro e o posicionava para em seguida deixar aos pés do pinheiro de Natal as bicicletas que os dois ganhariam. E que supostamente teriam sido trazidas pelo Papai Noel. Antes que o Luís deixasse o carro, o Bento salta pra dentro do portão e corre de volta pra casa com a desculpa de que tinha que deixar o celular carregando para poder jogar quando voltasse da missa. O pai aguarda no carro. A mãe desconfia do que alegou o filho. Bento posiciona o celular para flagrar o Papai Noel e volta correndo para o carro na rua. O Luís completa o combinado, deixa os presentes e todos rumam à igreja, pai, mãe, crianças, avô e avó.

Fico pensando o que passava na cabeça do Bento sobre o seu plano no caminho de cerca de 10 min até a paróquia Nossa Senhora Aparecida, do bairro Ipanema, em Porto Alegre. O que poderia dar errado? Como seria o Papai Noel que o celular filmaria? Daria para ver o seu rosto ou apenas as grandes botas pretas? Ele descobriria o celular?

Cerca de uma hora e meia depois, estavam todos de volta. Assim que a porta é aberta, a surpresa. Aquela sensação gostosa invade o peito e o semblante dos pequenos: o Papai Noel não tinha esquecido deles; ele trouxera duas bicicletas e elas estavam ali, de verdade, como num passe de mágica, estacionadas em frente ao pinheiro e o presépio. Dividido entre a alegria e a curiosidade, Bento corre pegar o celular. Desconfiada do que o guri havia aprontado, a mãe observa a cena. O Bento assiste vidrado o vídeo que havia feito. Para mãe e filho, o tempo não passa. A filmagem parece longa demais. “Ele filmou mesmo? Como será quando ele souber que foi o pai”, pensa minha irmã. 

“Vai, vai, vai, deixa eu ver quem deixou estas bicicletas”, murmura o Bento, com as duas mãos segurando o celular na horizontal.  Passam-se dois minutos. “Ah, droga, trancou e não filmou!!”, esbraveja ele, um pouco antes de jogar o celular no sofá e sumir emburrado.

A mãe se apressa para conferir o que havia sido gravado. Percebe que o filho não assistira tudo e corre o linha do tempo para ver o final.

“Luís! Olha isso!”, chama o marido, atônita, e baixa a voz: “O Bento te filmou deixando as bicicletas aqui. Olha isso, direitinho. Hahaha! Mas ele não aguentou esperar até o final, achou que o vídeo acabava antes de tu entrar”.

“Caracas, que esperto!”, diz o pai orgulhoso, quando é interrompido.

“Temos que contar pra ele que ele conseguiu e sobre a existência do Papai Noel”, decide a mãe.

“Vamos, sim”, concorda o pai.

Os colegas da escola, quase todos, já sabiam da verdade sobre o bom velhinho, e até tiravam sarro da inocência do Bento. Chegara o dia. O Bento saberia a verdade. E de uma forma muito especial. Tudo a ver com  essa nossa era da tecnologia.

Reunidos na sala à noite, pai e mãe mostraram o vídeo ao Bento e contaram toda a verdade. Mas fizeram mais bonito. Disseram a ele algo como que cada um sempre pode ser um Papai Noel quando for presentear alguém que a gente ama. Que ele existe em nosso coração. Que podemos inclusive ser o Papai Noel de crianças mais pobres. Mais tarde, contaram a nós que ele ficou triste, mas orgulhoso de seu feito. E que os deixou na sala, foi até o quarto e voltou com um saco cheio de brinquedos seus:

“São para darmos para as crianças mais pobres”.

Viram? Papai Noel existe

Juliano RigattiO Papai Noel existe
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Duas coisas sobre o Natal

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O Natal pode ser como aquele pai que abaixa-se até a estatura do filho sempre que precisa lhe dizer algo importante.

Olhando nos meus e nos seus olhos, neste dia santo, Ele diz duas coisas — e as enumera como forma de valorizá-las:

— Vou lhe dizer duas coisas.

Surpresos, você e eu não esboçamos nenhum movimento, estamos atentos.

— A primeira lição deste acontecimento é o que o antecede e o possibilita. O gesto daquela menina, chamada Maria, de colocar-se em prontidão para que acontecesse com ela algo estranho, duvidoso e quase absurdo. Num ato de rara coragem humana, ela rejeita sua razão e entrega sua existência à fé. E só por isso o milagre aconteceu.

— Sim, um grande exemplo — nós respondemos. Mas muito difícil de pôr em prática.

— O segundo aspecto do Natal é que, se vocês forem capazes de repetir o gesto da virgem, por menor, mais circunstancial e simples que seja, repetirão também o milagre.

— Como assim?

— Se forem capazes de perceber a Minha vontade em suas vidas, com ouvido atento e olhar puro, e tiverem coragem de seguir Meu chamado, suas vidas também servirão de útero para o Salvador. 

E continuou.

— O Natal vem a cada ano revelar que também vocês são capazes de gestar e parir o sagrado. Como templo do Espírito Santo que são, suas vidas têm o potencial de trazer ao mundo a salvação, em pequenas ações, nas relações que pessoas.

Maria refez a história ao dar a luz a Jesus Cristo. Por seu exemplo, podemos seguir realizando este milagre em nossas vidas.

Feliz e abençoado Natal!

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