Fome Zero: Um

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Uma grande mazela de nosso país e o grande foco do programa Fome Zero, como todos sabemos, é o combate à fome. Ponto. É algo que todos sabemos. O que talvez não se perceba é o quanto a fome do nosso povo repercute em nossa linguagem, em nossas expressões, em nossas gírias e em nossos quase dialetos particulares existentes em cada unidade da federação.Explico isso pelo fator cultura que, em oposição às mazelas, é a grande riqueza de nosso povo. A cultura, em pobres palavras, é um conjunto de costumes e características de um determinado povo. Experiências de sofrimento, de dificuldade, de celebração e de sucesso contribuem para a evolução e a preservação dessa cultura. Assim aconteceu com os nossos imigrantes alemães e italianos que, depois de instalados aqui no Estado e agredidos pelo homem e pela natureza, reuniram forças e construíram seus próprios valores e constituíram uma cultura que os protegeu. Hoje, a alegria em poder gozar livremente dessa cultura, a torna ainda mais forte e resistente ao tempo e às pessoas. 

A fome é causadora emergente de muitos problemas sociais no Brasil. É causada pelo desemprego, pela exclusão. Cria a delinqüência, o viciado, o desnutrido e o incapaz. O incapaz gera educação não-aprendida que gera desemprego que novamente gera a fome. O grande círculo viciado e canarinho. 

A fome (apesar de não podermos escapar de sua pejoratividade) é a grande característica da cultura do povo brasileiro. E de uma forma um pouco mais irreverente, essa marca e seus derivados foram sendo incorporados em nossa linguagem e em nossas expressões verbais de modo que passamos todos (beneficiados pelo Fome Zero ou não) a pertencer a uma mesma cultura brasileira da fome.  

Quem de nós, brasileiros, ainda não comeu o pão que o diabo amassou, por exemplo, ou não se viu tentado a colocar mais lenha na fogueira? E quem será que ainda não foi de mala e cuia pra algum lugar e ouviu gente dizer que quase comeu com os olhos algo e que também ficou com água na boca?Também nunca disseram que chorar as pitangas depois do acontecido é, às vezes, o mesmo que chorar o leite derramado. Quem já não reclamou de barriga cheia ou não descascou um abacaxi ou não cuspiu no prato que comeu?Esses sintomas são realmente muito comuns. Para alguns de nós que têm o que comer todos os dias, a vida pode até ser um mamão com açúcar, para outros, é um baita pepino. E assim vai.Quem sabe agora, ao invés de ficar enchendo lingüiça, nos demos conta de que esse problema da fome também é nosso. Nos demos conta que ajudarmos cada um com um pouco é importante porque de grão em grão a coisa se viabiliza: os brasileiros poderão juntar a fome com a vontade de comer. Não é de uma hora para outra, mas aos pouco vamos tomando jeito, aprendendo a participar, aprendendo a pôr a mão na massa, reconhecendo que temos nossa função nesse processo de mudar o Brasil da água pro vinho.

Agora, mais importante que isso tudo é confiarmos na competência e na honestidade do Sr. Lula. É acreditar que ele é, sim, como o vinho. Porque se nos enganarmos nisso, se realmente ele não for quem prometeu ser e esses preços continuarem subindo, nos arriscamos ter feito uma baita confusão na hora de votar. E como diz o povo, vamos ter confundido Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Juliano RigattiFome Zero: Um

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  • Celso Rigatti - 5 de novembro de 2006 reply

    Juliano:
    Atento, realista e esclarecedor como sempre. É disso mesmo que precisamos. Obrigado por nos alertar!

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