Nossos modelos, parte 1

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Assim como essas letras, que saem todas umas atrás das outras, imitando cor, tipo, tamanho e direção, assim também somos nós. Assim como essas linhas que saem poucas e logo são muitas, imitando uma as outras sua forma, seu comprimento e seu senso de limite e de distância entre a anterior, assim também somos nós. Seguimos, desde o nascer, modelos que nos são apresentados.

A menos que eu tenha agora um baita defeito no teclado ou um bug aconteça no Word. Daí é possível que as saiam uma de cada cor e uma de cada tipo. A primeira Arial, a outra Comic Sans e a terceira, quem sabe, Impact. Uma negrito, a outra itálico e a última sublinhada. Uma gritando pontos de exclamação quando somente deveria seguir o exemplo da que veio atrás, mesmo que aguardando ansiosa o fim da frase, o desfecho da idéia. Convenhamos, isso nunca acontece. Nem as linhas fazem assim. Imaginem uma em cada direção, uma por cima da outra, sem nenhum critério de distância, nem de consciência de até onde pode ir. Se elas, letras e frases, não fazem assim, muito menos nós o faremos.

Não somos assim tão parecidos, com hábitos tão similares, por simples coincidência ou herança genética. Desde o primeiro choro e o primeiro e doído brilho de luz nos olhos, somos influenciados por modelos que existem desde antes de nós.

Qual foi a primeira palavra que você disse? Que gíria você mais usa e de onde você a tirou? Esse jeito de amarrar os tênis aprendeu com quem?

Provavelmente tenha sido mamãe ou papai a sua primeira demonstração fonética. Talvez bebê. Isso porque, certamente, era a palavra que seus pais ou quem cuidou de você mais dizia. Era o modelo que você tinha. Era o único que você conhecia e porque teve que falar, foi assim mesmo que falou.

Com o passar do tempo, passamos dessa fase. Passamos a conviver com alguns modelos a mais. Além de engatinhar, sabemos agora caminhar e correr. Além de sentar e ficar em pé, sabemos ajoelhar. Tiramos uma das rodinhas, depois a outra e logo conduzimos a bicicleta assim como o vizinho mais velho aquele faz. Igualzinho.

O tempo passa mais um pouco e já precisamos escolher que modelo queremos seguir. A sociedade e a televisão, alimentada por ela (ou será o contrário?), nos apresentam infinitos modelos. Modelos de consumo, modelos de beleza, modelos de moda, modelos de comportamento, modelos de felicidade, enfim, modelos de vida.

Passamos, então, a conjugar o discernimento. Alguns tombos nos ensinam a optar por isto ou por aquilo. Pelo modelo positivo ou pelo modelo negativo. Até que configuramos nossa personalidade, antecipando escolhas por modelos positivos e negativos. Alguns bem fáceis, outros nem tanto de escolher.

Ghandi para todos é um modelo de humanidade. Martin Luther King para os mesmos é um modelo de luta contra o racismo. Madre Teresa de Calcutá é um modelo de desprendimento do mundo material, de dedicação ao mundo espiritual e de caridade. Maria, a mãe de Jesus, é, para os católicos, modelo de fé e de silêncio. O próprio Jesus, para os cristãos, é um modelo de perseverança, de humildade e de sabedoria.

Já ouvi, já disse aqui e repito: somos resultados de nossas escolhas. Dia a dia. Somos resultados das escolhas de nossos modelos. O que vamos seguir. Que caminho tomar. Gritar ou calar. Ajudar ou ignorar. Ligar ou esquecer. Doar ou esbanjar. Comer ou evitar. Assim mesmo, coisas simples. Imitamos sempre algum modelo que já conhecemos. E, assim mesmo, no simples, vamos configurando nosso jeito de ser.

Sofrido o caminho daqueles que, apesar da oportunidade que têm para escolher, preferem o modelo negativo. Como se não bastasse a morte ser a certeza de todos, para estes, o medo, a tristeza e a miséria de espírito serão os companheiros até o final previsto.

Felizes os que podem ainda discernir. Escolher entre um e outro. Triste é o mundo daqueles que não tiveram essa chance. Triste é o destino daqueles que nunca tiveram o bom e o ruim, lado a lado, para optar. Um Estado (ou os dois) que convive com a falta de um modelo positivo para suas crianças desenvolvem a cada dia um case de sucesso na construção de um país com um futuro doente. Que, muitas vezes, um a um, vai morrendo até mais cedo do que a própria morte previa.

Falcão – meninos do tráfico é um retrato em preto e branco da doença de nosso país.

Juliano RigattiNossos modelos, parte 1

3 comments

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  • Dudu - 31 de março de 2006 reply

    modelos de felicidade…conceito interessante p/ refletir sobre.

  • Juliano Filipe Rigatti - 2 de abril de 2006 reply

    Reflitamos então, rapaz.
    Estou fazendo isso há horas…
    Bração!

  • Anonymous - 2 de julho de 2006 reply

    “sofrido o exemplo negativo…”
    NOSSA?!

    quando foi a última vez que escutei alguém me olhar e dizer:

    “Quero ser como você Roberto?”

    AMIG@S, LIVREMO-NOS
    ‘desta tristeza, medo e miséria de espírito.’

    U Z I N E E E E M O !!

    Obrigado pelo exame de consciência.

    Roberto, Pará, Brasil

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